26 de dezembro de 2007

3 milagres de Natal

1. Havia uma rapariga, uma drogada - cujo nome não vou dizer, por respeito, embora muitos possam conhecê-la - que estava sempre nos semáforos do largo de Lordelo do Ouro numa cadeira de rodas a pedir dinheiro. Não era deficiente nem doente, mas ficou isso tudo por causa da droga. Essa rapariga sensibilizou-me especialmente, por várias razões. Primeiro, era linda de morrer e tinha imensa vida dentro dela, era rebelde, ousada. Depois, reconhecia sempre o carro que eu usava, que é da minha mãe, pois a minha mãe às vezes era simpática com ela. Sorria-me com cumplicidade, como quem diz: "tou a ver quem és, gosto de vocês." E eu ficava sempre com uma sensação de impotência e tristeza por dentro, por passar por ela sem fazer nada, em noites inacreditáveis de frio e chuva, e ela ali na cadeira. Às vezes estava lá só de olhos fechados, sozinha, sem reagir, da moca ou da doença, nem sei. Acho que para mim ela simbolizava aquilo que pode acontecer a uma pessoa perfeita que cai nos caminhos da vida. E não sei se há caír maior do que o dela.

Uma pessoa que nós conhecemos, a Mafalda, costumava dar-lhe apoio, e uma vez a minha mãe disse que ela estava no hospital Joaquim Urbano (de doenças infecciosas), a morrer. Fiquei com uma pena enorme, e nunca engoli bem o facto de assistir à queda gradual dela sem fazer nada. Que é que eu podia fazer? Não sei o que fazer, como lidar, nada.

De qualquer maneira, no Domingo passado vejo na missa onde costumo ir uma rapariga numa cadeira de rodas. Era ela! A Mafalda tinha-a levado para passar o Natal em casa dela, e estava com muito melhor aspecto. Nem queria acreditar!! Pensava que ela estava morta, não sei o que aconteceu, que doenças tinha das quais se safou, se recuperou da droga, não sei nada. Mas foi um milagre :)

2. Almoço de Natal. A minha mãe convidou três sem-abrigo para almoçar connosco. Uma quase não tem dentes, as unhas parecem carcaças de tão grossas que são, a cara tem a expressão da vida incrível que levou. Se calhar o caír dessa foi maior do que o da rapariga da cadeira de rodas. Outro é um alcoólico de 65 anos, e o terceiro é um brasileiro mulato que não teve a sorte que pensava que ía ter em Portugal. Esse tem um sorriso de criança, quando se consegue arrancar-lhe um sorriso, e é muito misterioso. Não se percebe o que lhe aconteceu, não conta, nem se pergunta. O dia estava cinzento, eu tinha sono, frio e fome, e só me apetecia comer. Não sabia bem se me apetecia muito estar ali com eles, mas gostei da iniciativa da minha mãe, e achei piada à situação.

Pensava eu, do alto da minha soberba, que ía dar alguma coisa, e eis que fui eu quem mais recebeu. Primeiro, o brasileiro pega na minha guitarra, e desata a tocar músicas brasileiras do sertão, que eu acho imensa piada, e animou ali a mesa num instante. O dia já não estava muito cinzento, e a distância entre nós já não parecia muita. A outra ria-se e fazia festa com o cão, e apesar de parecer tola, quando olhava para mim eu via nos olhos dela que não é nada tola e que sabia exactamente tudo o que a situação representava. O velho comia e bebia com um ar de satisfação relaxada. De repente não havia distância entre nós. Éramos amigos que partilhavam um momento, uma comida, um sorriso, sem disfarçes nem cerimónias, e eu senti-me feliz. Foi o milagre nº 2 :)

3. No fim do dia, já noite, antes do jantar, as nuvens e a chuva acharam que já chegava. Farto de estar em casa no dia de Natal, e sem nada que fazer, aproveitei. Peguei na mota e fui dar uma volta. Passei nas iluminações da baixa, e fui até à praia de Matosinhos, que estava gelada, quase deserta e escura. Os postes da avenida do mar abanavam tristes com uma nortada furiosa. Os prédios tinham luz nas janelas e via-se pessoas lá dentro no quentinho a saborear a companhia das famílias.

A maré estava vaza, e ao pé da água uma escuridão. Apeteceu-me apanhar mais vento nas trombas, e fui até ao pé do mar. Quando cheguei lá, os meus olhos habituaram-se à escuridão. A areia estava toda lisa sem pegadas, e com riscas de grãos de areia levados pelo vento. Via-se umas coisitas brancas a passear na areia molhada. Eram aves marinhas, sempre sóbrias, sempre vivas. O mar cheio de espumas brancas a rugir, vivas como as aves, e a linha do horizonte bem marcada contra a luz suave do céu. Ao longe, uns navios com as luzes acesas, e por cima, um céu lindo cheio de estrelas a brilhar. A esplanada e os prédios estavam longe do outro lado, e por trás a lua cheia linda, a nascer. Fiquei tempo q.b. a apanhar vento nas trombas. Tudo o que em mim não interessava foi com o vento, e lembrei-me duma coisa: a vida é hoje tão nova e cheia de possibilidades como no dia em que nasci. Milagre nº 3 :)

24 de dezembro de 2007

Natal 2007



"No Natal, o nosso espírito abre-se à esperança, ao contemplar a glória divina escondida na pobreza de um Menino envolvido em panos e reclinado numa manjedoura: é o Criador do universo, reduzido à impotência de um recém-nascido!
Aceitar este paradoxo, o paradoxo do Natal, é descobrir a Verdade que liberta, o Amor que transforma a existência.
Na Noite de Belém, o Redentor faz-Se um de nós, para ser nosso companheiro nas estradas insidiosas da história. Acolhamos a mão que Ele nos estende: é uma mão que não nos quer tirar nada, mas apenas dar."

Bento XVI (in mensagem da PUPS - Pastoral Universitária do Porto - Saúde)

Natal é isto que o Papa escreveu. E por causa disto, tornou-se também mais. Tornou-se símbolo de segurança afectiva. No Natal os corações têm tendência a abrir-se, e a lembrar-se daquilo que para cada um é o seu "quentinho" afectivo. A família, os namorados, as pessoas, o amor, a bondade. Pelo menos o meu tem essa tendência, e acho que não é o único.

E por causa disso, tornou-se também mais, e hoje em dia é muitas coisas para muita gente. E muitas vezes esquecemo-nos da primeira que originou todas as outras: Jesus, uma pessoa enorme que nasceu (e viveu) muito pequenina. E outras vezes esquecemo-nos também da segunda coisa: estar com os nossos entes queridos (e não só), perdoar os dissabores, confiar, entregar e voltar a unir.

Esta noite é mágica, sempre foi e sempre será. A magia não é mais do que o Amor, e hoje ele anda à solta. Desejo sinceramente que todos o deixemos entrar e sintamos a magia em nós.

Feliz Natal...

23 de dezembro de 2007

Querer e precisar

São coisas diferentes. Querer é amar, precisar não tem bem a ver com amor. Se eu preciso de alguém, então procuro essa pessoa para me dar qualquer coisa que me falta, e sem a qual eu sinto um défice em quem eu sou. Se eu quero estar com alguém apesar de não precisar dessa pessoa, procuro-a pelo que ela é, e não pelo que ela me acrescenta como pessoa. Aí é que começa o amor e acaba a confusão. A isto chama-se autonomia, que por sua vez é diferente de independência. Ser autónomo não é ser independente ou indiferente. Se eu amo uma pessoa, quero-a, apesar de não precisar dela. E se a quero, estou dependente de estar com ela, do que ela faz e do que lhe acontece, pois isso afecta-me, não me é indiferente.

Estas confusões entre este tipo de "conceitos" são difíceis de esclarecer em nós, pois são desenvolvidas pelas nossas experiências desde a infância, e estão na forma de sensações pouco conscientes. Mas quem cresce e vive num ambiente de amor saudável, tem-nas bem arrumadas naturalmente, sem ter que pensar nisso. Quem não teve essa sorte, ou vive experiências fortes de amor saudável que lhe ensinem isso automáticamente, ou tem que tornar essas coisas conscientes para compreendê-las e mudá-las.

22 de dezembro de 2007

Mmm... é tão bom estar deitado a ouvir um cd e perceber que távamos a dormir quando o silêncio nos acorda depois do cd ter acabado...

19 de dezembro de 2007

Tempestade

Tempestade lá fora e tempestade cá dentro. De mim. Há dias que parece que o peito não me chega. E se depois me ponho acordado até às tantas, o dia seguinte é uma merda. E vou por aí fora até fazer alguma asneira cujo arrependimento me devolva a calma. Pareço um cão. Mas também não queria ser doutra maneira, gosto de cães. Resolvem os assuntos na hora, e sabem lamber as feridas. Têm amor-próprio e não são complicados. Mas há dias assim. Apetecia-me estar aí. No fundo és tu a minha tempestade. E bem mais bonita que a de lá de fora, que já é bem bonita. Mas essa está aqui, tu não. E é não estares a minha tempestade, pois quando te vejo sou lua cheia. Talvez se não fosse te visse mais. És cadela que precisa de lutar pela carne. Corações estranhos os nossos... não sabem descansar um no outro. Talvez seja melhor assim. Resta-me a escrita. Graças a Deus pela capacidade simbólica.

16 de dezembro de 2007

Fernando Pessoa é um mundo. É um universo, uma maneira de ver e de sentir.
Já não me lembrava disso, e por isso fiquei pasmado a ouvi-lo no teatro de São João.
Fernando Pessoa estava muito à frente do tempo dele, e por isso devia ser muito sozinho.

Quem gosta não perca, aqui.

E aqui um cheirinho:

"Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a primeira inocência,
E toda a inocência é não pensar..."

15 de dezembro de 2007

Quando se trata de coisas que vivem, em tudo o que faz parte delas há mensagens, significados, comunicação. Tudo diz alguma coisa, de alguma maneira, e a alguém.

Psicologia não é mais do que descodificar esses sentidos, perceber o que cada coisa em cada pessoa diz, a quem, e de que maneira. Se durmo muito ou pouco, se tenho os olhos abertos ou fechados, se gosto de árvores ou de carros, tudo isso diz coisas, e é lido de maneiras diferentes por pessoas diferentes.

Normalmente, é como se tivéssemos películas, véus por cima dos olhos que nos turvam a visão. Perceber as mensagens é como levantar véus e ver as coisas com outros olhos, ou melhor, com os mesmos olhos, mas lavados.

2 de dezembro de 2007

Dás cabo de mim. Se tudo fosse como tentam pintar, com coisinhas que tentam encaixar em prateleiras que tentam arrumar para dizerem que são isto ou aquilo... se eu precisasse das lentes que precisam e que se esforçam por engrossar para tapar a vista que não querem suportar... talvez também te quisesse arrumar e encaixar, pintar e engrossar. Mas não. Como é que não me vês? Tenho mesmo que trazer uma bandeira que não sou? Tens mesmo que meter na tua prateleira coisinhas que te digam o que queres que eu seja? Se vestisse a tua roupa ficavas satisfeita? Dás cabo de mim. Se pudesses largar os teus planos virtuais, as tuas lentes e prateleiras, vias-me como sou. Não tenho planos nem amanhãs. Não gosto de prateleiras e bandeiras, nem de quadros pintados por olhos apagados. Sou o que sinto. Venho despido, não vazio, mas não me vês à tua frente. E a ti, consegues ver? És linda de morrer, mas não sabes o que é viver. Dás cabo de mim.

26 de novembro de 2007


Há uns anos tive um sonho que me incomodou pelas sensações ameaçadoras e cruas que me deu. Estava eu num quarto numa casa antiga onde passava férias, e ouvi qualquer coisa ao fundo do corredor. Tive uma sensação fria de que estava ali alguma coisa, uma presença má que se podia sentir (isto tudo no sonho). Passei um quarto, outro, e quando vou a passar em frente à casa de banho, vejo um homem muito alto e muito forte, embora esqueléctico, meio gigante, dava quase pelo tecto, e estava nu, tinha uma expressão de angústia, atormentado, uns olhos cavados e arregalados que exprimiam desolação, agressividade e descontrolo: era um louco assassino, e estava a segurar no irmão mais novo dum amigo meu de pernas pró ar, já inconsciente, a batê-lo contra a parede e contra o chão, cheio de raiva, como se fosse um boneco. Congelei e fiquei como se estivesse perante uma fera, consciente do grande perigo que corria, um louco assassino grandalhão à solta em minha casa, que de repente se tinha transformado num cenário de guerra, um campo de batalha. Era uma situação de vida ou de morte. Ele viu-me, e com qualquer movimento meu podia-se lembrar de me vir tentar apanhar e fazer-me o mesmo.

Não me lembro do resto, provavelmente acordei quando ele me estava quase a apanhar, que é típico dos pesadelos. De qualquer maneira, hoje fui ao cinema ver o "Beowulf" (em 3D no Dolce Vita, muito giro), em que entra logo desde o princípio um monstro (chamado "Grendel") muito parecido com o louco do meu sonho!! Juro que durante uns minutos me senti incomodado, mexeu comigo. É esta criatura simpática aqui em cima... :/ (quem pode vir dormir comigo hoje? eheh)

25 de novembro de 2007


I´ve got myself...

24 de novembro de 2007

Estrutura de Natal

Chamam áquilo uma árvore de Natal? É um conjunto de metal e luzes coloridas, e até a forma é só vagamente parecida. Talvez a música sirva para estimular a imaginação que vai sendo precisa para ver ali uma árvore de Natal. Mas lá grande isso é, se é isso que queriam, conseguiram...
Noite avançada, silêncio debaixo da lua cheia de Novembro. Cheiro a lenha queimada sacode o frio do nariz. O cão percorre elegante a rua húmida, pára de orelhas em pé a fitar uma parede nua. O silêncio e a lua lembram-me: "se calhar os cães vêem fantasmas animais que a noite traz, e há um gato invisível a olhar ali para ele". Ou talvez seja o meu espírito solto pelo sono. Nada que uma cama quentinha não resolva já a seguir. Boa noite lua cheia de Novembro, gosto muito de ti.

21 de novembro de 2007



It was me in that room
But you couldn`t see me
Too many lights out, but nowhere near here

It was me in that room
Still you couldn`t see me
And then flashlights and explosions

Roads are getting nearer
We cover distance but not together
I am the storm and I am the wonder
And the flashlights, nigthmares
And sudden explosions

I don't know what more to ask for
I was given just one wish

It's about you and the sun
A morning run
The story of my maker
What I have and what I ache for

I`ve got a golden ear
And cut and I spear
What else is there?
Roads are getting nearer
We cover distance still not together

If I am the storm if I am the wonder
Will I have flashlights, nightmares, sudden explosions

There is no room where I can go and
You`ve got secrets too

I don`t know what more to ask for
I was given just one wish

(Royksopp - What Else Is There?)

15 de novembro de 2007

O que dizer da morte? É simplesmente grande demais para se poder comparar com qualquer outra coisa. Perante ela tudo fica relativo, tudo fica pequeno. É um monstro, um gigante. Que andamos nós a construír, que dum momento para o outro tudo desaparece sem deixar rasto? Que significado têm as nossas actividadezinhas todas, se os nossos dias são um grão de areia num oceano de infinito?

Por outro lado... parece-me que um dos segredos para diminuir o monstro está relacionado com a nossa pequenez. No fundo, a monstruosidade da morte vem do facto de nos tirar tudo, até o próprio corpo, a própria noção de ser. Mas só tem medo de perder coisas quem considera que as tem. Há quem se saiba pequeno, há quem saiba que não possui nada, e para quem cada dia é um acréscimo a esse nada, e não uma coisa a defender com todas as forças.

Mas então... será que o mais lógico é prescindir de tudo, não viver a vida, não nos entregarmos às coisas, porque existe a morte? Claro que não... acho que o mais lógico é viver tudo, a vida, as pessoas, os laços... mas sem nos apropriarmos de nada. Saborear, sugar ao máximo o tutano da vida, mas sabendo sempre que já fomos nada, e que voltaremos a ser nada; que não temos nada, e que por isso tudo é acréscimo. Nada é perda, tudo é ganho.

Mas voltando à pergunta: que significado têm as nossas actividadezinhas todas? A minha resposta é que têm significado na medida em que se aproximarem do elemento mais central da vida em si. Na medida em que estiverem ligadas à força primordial e essencial da vida, ao único elemento que pode ser transversal a tudo o que existe, a única coisa que poderia ser grande o suficiente para ter sido a primeira a existir, ou ainda, ter existido antes de tudo o resto, ou ainda, sempre ter existido.

As nossas actividadezinhas têm significado na medida em que estiverem perto do Amor. E quem sabe, o Amor não poderá até levar-nos para além da morte? Quem o conhece sabe bem que com ele tudo é possível.

Nada é perda, tudo é ganho.

11 de novembro de 2007

Stardust


Adorei ver este filme. Fora ser uma história linda em sítios mágicos, fez-me lembrar várias coisas que já sabia mas que muito facilmente se deixa para segundo plano: que o Amor é a coisa mais importante do mundo; que o nosso valor como pessoas é enorme e independente dos critérios mesquinhos e deturpados que nos são transmitidos por uma sociedade deteriorada; que a nossa verdadeira identidade é a de Estrelas Cadentes destinadas a brilhar eternamente; que a nossa verdadeira casa é feita duma Luz acolhedora e resplandecente; que é muito importante tratar-nos a nós e aos outros de acordo com a dignidade e o respeito que a nossa identidade e a nossa casa merecem. E sorrir, felizes, com esta Vida que recebemos.

www.stardustmovie.com

8 de novembro de 2007

Fitar os olhos dela dá cabo de mim. Perco-me dentro de olhos bonitos, fico hipnotizado, e já nem sei de que é que falamos. Às vezes o silêncio acorda-me: ficou à espera de resposta, e digo qualquer coisa. "Pois... é isso..." E volta a falar, e volto a perder-me nos olhos dela. E já não sei quem é: uma rapariga ou um espírito animal qualquer. As cores, a harmonia, a intensidade... são fascinantes. Que coisa Deus criou, as mulheres. Há qualquer coisa diferente dentro delas, e o mistério atrai. São bonitas, elas, os seus olhos, e tudo o resto. Falam dos seus assuntos como se fossem os mais importantes do mundo, duma maneira querida. Estão cheias de expectativas. São bonitas. Se nos apanham o coração não perdoam. Fazem de nós o que quiserem. São perigosas, elas e os seus olhos. Mas o perigo atrai. E são bonitas. E é isto.

Poderes...


Ontem pus-me a pensar no meu prédio e na relação entre os condóminos, que é bastante impessoal, e pus-me a imaginar como seria se cada condomínio fosse uma pequena aldeia, em que as pessoas tivessem relações afectivas e familiares e vivessem ligadas umas às outras... seria muito giro.

A propósito disso, percebi uma coisa que já achava há muito tempo mas que não sabia definir. Quem me conhece sabe que eu sou meio anárquico e que não quero cá ninguém a mandar em mim, seja presidente, rei, primeiro-não-sei-quê, ou lá o que fôr :) mas fora isso, acho que tanto a república como a monarquia têm vantagens e desvantagens. E sempre houve qualquer coisa na monarquia que me fascinou, e não só a mim, como a toda a gente. Os americanos, por exemplo, ficam fascinados com o rei de Espanha, e outras famílias reais. Donde é que nos vem esse fascínio pela monarquia? É por causa dos castelos, dos terrenos e do luxo em que eles vivem?

Acho que há duas coisas (e possivelmente mais, mas eu só identifiquei estas duas) que estão na base desse fascínio:

primeiro, há em todas as relações humanas uma busca de poder pela liberdade da nossa vontade, fazer basicamente o que nos apetece sem ter que dar satisfações a ninguém, seja como pessoas individuais, seja como famílias ou pequenos grupos. Essa busca tem que ser regulada, uma vez que é difícil que todos possam fazer tudo o que lhes apetece. Em todo o reino animal e também no reino humano, até aparecer a república, esse poder era regulado através de hierarquias baseadas em vários critérios, desde a força até à inteligência, mas com o ponto comum de que os membros que estão acima na hierarquia têm a possibilidade de não ter que dar satisfações aos outros sobre o que lhes apetece fazer, e de poder ter pequenos grupos familiares independentes. Assim, na monarquia, uns exercem essa liberdade, outros têm essa liberdade em diferentes medidas, outros sonham com essa liberdade, mas esse desejo é aceite, reconhecido e aprovado.

Esse tipo de liberdade da vontade é uma coisa que fascina as pessoas, e que desapareceu na república, uma vez que ninguém numa república está isento de dar satisfações aos outros, e há até uma mensagem subjacente de que é errado preferir a nossa vontade, ou a vontade dos que nos são próximos, à vontade de toda a comunidade, de toda a nação. Assim, há na república uma espécie de negação da natureza egocêntrica das relações de poder, natureza essa que não deixa de ser egocêntrica apesar dessa negação. A monarquia tem a vantagem de, ao reconhecer essa natureza humana, e ao dar-lhe uma ordem (seja o método escolhido para essa ordem perfeito ou não), permitir às pessoas reconhecerem e aceitarem a sua identidade como "buscadores de liberdade da vontade", e encontrar uma harmonia nessa busca colectiva, dentro da não-negação.

Mas na república, existe um pseudo-moralismo que diz às pessoas "a comunidade está acima dos interesses individuais", e as pessoas deixam de reconhecer e aceitar a sua natureza, a sua busca pela liberdade da vontade, que passa a ser reprovada colectivamente e inconscientemente. Daí que fiquem fascinadas por uma certa "integridade do Ego" que as pessoas na monarquia manifestam ao aceitarem a sua natureza de maneira tão aberta e descarada, e não só isso, mas também com estilo e civilização.

O segundo elemento que acho que está na base do fascínio pela monarquia parece-me ser mais importante que o primeiro e é o mesmo que falta nos condomínios dos prédios :) é o tipo de relações que há entre as pessoas, a existência de raízes sanguíneas, morais, culturais, geográficas e afectivas comuns. Numa monarquia, é possível toda a gente (incluíndo os que têm poder político) estabelecer uma relação familiar, moral, cultural e geográfica que se torna também afectiva, ou seja, as pessoas podem dizer: aquele e aquele são da minha terra, primos deste e daquele, têm os mesmos valores que eu, vivem da mesma maneira que eu, etc. E isto acontece numa formação em árvore que vai até ao rei, fazendo com que a nação seja como uma espécie de família grande.

As pessoas identificam-se não só com as opções políticas do(s) chefe(s) político(s) (o rei e os diferentes chefes locais) mas também com os seus gostos, hábitos, personalidade, etc., e o rei (assim como os chefes locais) torna-se não só um símbolo político, mas também um símbolo cultural e humano que as pessoas respeitam em cada uma dessas dimensões. Acho que a palavra é a unidade. Uma monarquia tem a capacidade de reunir toda a nação numa grande unidade não só em termos hierárquicos, mas também em termos culturais, morais, etc.

Mas na república, as relações familiares e afectivas, a cultura, as raízes e a proveniência geográfica não são incluídas nas relações políticas, o que leva a uma grande impessoalização da vida colectiva. A nação passa a ser como um grande condomínio, em que as relações de poder só existem para a gestão dos recursos comuns, resultando daí que a população não se sinta identificada com os organismos políticos em termos culturais, morais, afectivos, familiares, etc. Não estou a dizer que isso seja mau, porque também tem vantagens, acho eu. Mas parece-me que a unidade é uma grande vantagem da monarquia que a república não parece conseguir atingir da mesma maneira. Basta dizer que em países com diversidade étnica, como a Espanha, se não fosse a existência de uma monarquia, o país dividir-se-ía em várias nações, o que prova a capacidade unitária da monarquia.

Mas que não haja confusões: não sou monárquico nem repúblicano, sou ANÁRQUICO!! =)

2 de novembro de 2007

Isto ultimamente é só reflexões...

É engraçado como o desenvolvimento vem mesmo da acção. Sò quando me pus a pensar (se é que pensar se pode chamar acção...) sobre o tema que queria para a espécie de mestrado que vou fazer, é que percebi que muitas outras idéias estavam escondidas por baixo dessa idéia principal.

A idéia principal é a vivência do corpo e a sua relação com as emoções. Como disse nos últimos posts, acho muito importante a compreensão dos processos que se dão no aqui e agora à medida que as pessoas se relacionam entre si, e a procura duma experiência global e intensa na relação com os outros e com o mundo. Assim, queria fazer qualquer coisa sobre a vivência do corpo em relação com as emoções, como uma maneira de promover essa experiência global, directa e imediata.

Ao tentar aprofundar esta questão, percebi que: exprimirmo-nos emocionalmente e termos consciência dos nossos sentimentos são duas coisas muito ligadas. O não exprimir emoções leva à falta de consciência do que é que estamos a sentir, e vice-versa.

Da mesma maneira, a expressão corporal das emoções é uma forma de expressão emocional importantíssima, e o limite entre o físico e o psicológico é muito mais difuso do que costumamos pensar. Realmente, somos um ser que a cada momento tem todas essas dimensões numa relação muito próxima: pensamentos, emoções e sensações corporais são um contínuo muito mais indivisível do que pensamos.

Ao mesmo tempo, tudo isto parece estar ligado à nossa animalidade. As nossas emoções foram formadas através da associação de reflexos fornecidos pela experiência da espécie, ligados à sobrevivência. Por isso, emoções, impulsos fisiológicos de alerta, acção, ritmo cardio-vascular, etc., estão muito ligados entre si, e como estou sempre a redescobrir, o humano e o animal estão também num contínuo indivisível.

Moral da história: quanto mais formos capazes de vivermos integrando todas estas dimensões, que no fundo são inseparáveis, mais profunda e verdadeira vai ser a nossa experiência da vida, e mais aliviados nos iremos sentir. Que aquilo que vai dentro de nós não fique guardado no baú da nossa memória, mas tenha sempre uma expressão exterior e física, corporal, e que esteja dirigido a alguém, no quadro duma relação interpessoal. Acho que isto é importantíssimo na compreensão da nossa saúde psicológica, afectiva, e até mesmo física e espiritual. A vida é relação, relação é acção, e acção é uma experiência que só existe no presente e é global: mental, afectiva, física e espiritual.

Ah, o espiritual. Aqui entra mais uma falsa divisão que costumamos fazer: o psicológico e o espiritual , que também estão num contínuo indivisível. Realmente, vivermos ao nível da expressão emocional corporal permanentemente traz alívio e saúde psicológica. Mas trará felicidade? Parece-me que só isso não chega. O próprio conteúdo daquilo que vivemos, e não só a maneira como o vivemos, é determinante. Assim, o próprio tipo de emoções que sentimos e exprimimos nas nossas relações com os outros também é relevante. Podemos saber exteriorizar bem as emoções que resultam das nossas relações e isso trazer-nos alívio, mas nem todos os tipos de relações e consequentes emoções nos fazem bem. Há um tipo de relações que traz mais felicidade e mais saúde mental, afectiva, física e espiritual do que outras: as relações de amor.

30 de outubro de 2007

Humanistas, existencialistas, etc...


Não só temos em nós, mas somos uma espécie de mapa do nosso passado, e de todas as vivências que fizeram de nós quem somos.

As nossas reacções, acções, sentimentos e percepções do presente transportam em si a história que as fizeram ser como são.

Analisando os processos e os padrões das nossas relações actuais com os outros e com o mundo, encontramos toda a informação que precisamos para nos conhecermos profundamente.

Somos naturalmente predispostos para uma vida afectivamente plena e realizada, e se não o for é porque alguma coisa impediu o curso natural das coisas.

O nosso corpo está num contínuo com a nossa mente e a nossa afectividade. Tudo o que se passa ao nível psicológico, tem uma expressão ao nível corporal.

É importante aprendermos a viver no aqui e no agora, entrar em contacto com o nosso corpo, as suas sensações, e com as emoções que experimentamos a cada momento.

Curto estes manos!
"Be as you are, and so see who you are and how you are
Let go for a moment or two of what you ought to do,
And discover what you do do
Risk a little if you can
Feel your own feelings
Say your own words
Think your own thoughts
Be your own self
Discover
Let the plan for you grow from within you"

Fritz Perls

E aqui está o senhor em acção na sua terapia centrada no aqui e agora:

28 de outubro de 2007

Uma coisa que aprendi é que as pessoas, acima de tudo, querem seguir pessoas reais. Podem seguir idéias, filosofias, religiões, mas a pessoa específica que transmite essas idéias, filosofias ou religiões, com a sua maneira de ser e a sua personalidade, tem um papel muito importante nisso. E se essa pessoa for capaz de estabelecer uma relação real com as pessoas que a seguem, envolvêr-se emocionalmente com elas, tratá-las pelo nome, aí elas podem até chegar ao ponto de entregar a vida por essas idéias, filosofias ou religiões.

25 de outubro de 2007

"Some people never learn anything because they understand everything too soon"

Alexander Pope

21 de outubro de 2007

Saudades... :´(

As séries da minha infância. Ao ver estes vídeos sinto o cheiro do sofá dos meus avós onde eu adormecia a tentar ficar acordado a ver o Dallas ou o Hill Street Blues... a textura do meu velho pijama vermelho que me fez querer ser do Benfica (até o meu irmão me chamar à razão, claro)... a alcatifa de minha casa onde eu me deitava a ver o Galactica, os 3 Dukes, os Soldados da Fortuna... os heróis e modelos de fortaleza, segurança e confiança que eles eram para mim... a sala da casa de Verão onde vía o Verão Azul com os meus maninhos... as curvas em 90 graus que o carro do Automan fazia, sem abrandar... AAHHH! Nostalgía!!

Verano Azul



Automan



Galactica



Wonder Woman



The A-Team



Hill Street Blues



Dallas



O Homem da Atlântida



Os 3 Dukes



Knight Rider

20 de outubro de 2007

Ainda sobre o musical

Outra coisa que o Jesus Cristo Superstar me fez pensar foi o seguinte: neste musical, assim como em todas as obras cristãs que relatam a vida de Jesus, a Paixão e Morte de Jesus ocupam um grande destaque. Passa-se muito tempo a focar essas imagens desagradáveis. No musical dei por mim a querer que aquilo passasse rápido, e percebi que queria isso, por um lado, porque esse sofrimento me repugna e não me apetece pensar nele, e, por outro lado, porque ainda não o compreendo totalmente, e assim, para mim, fica só a parte má visível - as chicotadas, o sangue, etc. - e não o sentido que está por trás disso.

E isto leva-nos a um aspecto importantíssimo sobre a vivência da fé cristã e da sua transmissão: é que não adianta para nada enfatizar esse género de coisas a quem não as percebe. Isso é como dizer a alguém que, se um dia se juntar a uma mulher, vai ter que se esforçar por lhe agradar, levar-lhe o pequeno-almoço à cama, tratá-la bem, etc. Isto visto assim parece uma espécie de escravatura, e é pouco provável que atraia alguem, porque falta aí o sentido que está por trás. Esse sentido é o amor enorme que iremos ter por essa pessoa e que irá fazer com que todas essas tarefas nos dêem um grande prazer.

Da mesma maneira, mostrar o sofrimento de Jesus na cruz, ou dizer que temos que ser assim ou assado, ou que temos que largar coisas pelos outros, etc., etc., é completamente descabido, se antes a pessoa não tiver atingido o sentido que está por trás disso: conhecer e amar Jesus Cristo e a sua mensagem. Por outro lado, quando a pessoa tiver esse amor, não será preciso dizer-lhe que deve sofrer por causa da cruz, nem que deve ser assim ou assado, nem que deve largar coisas pelos outros, porque a própria pessoa irá sentir e fazer isso tudo em consequência do amor que terá a Jesus e à sua mensagem.

Assim, isto significa o seguinte: a única maneira certa de transmitir a mensagem de Jesus a alguém, é mostrar a essa pessoa quem ele é, o que disse, e explicar de que maneira influenciou a nossa própria vida. O resto virá naturalmente, e se não vier, de qualquer maneira não deve ser esse o objectivo. Tudo o que ultrapasse isto, está a mais.

Tenho a certeza que, se este pequeno princípio fosse aplicado em toda a Igreja, a sua maneira de estar, a sua filosofia, as suas actividades, etc., tudo mudaria radicalmente, porque hoje em dia não é ainda essa a lógica pela qual a Igreja se move. Enquanto a Igreja não se mover pela lógica certa, estará a afastar as pessoas de Deus e não a aproximá-las, o que é grave.

O que é q os dois últimos posts têm em comum?

Simples. Ambos estão relacionados com um fenómeno: é que a sociedade vive num equilíbrio de forças desde os tempos da pré-história, forças relacionadas com o poder, com a gestão dos milhares de vontades humanas que exercem pressão umas contra as outras na persecução dos seus objectivos, diáriamente.

Esse equilíbrio é como uma balança, em que se se tira de repente um dos pesos, o outro cai violentamente. Os dois últimos posts implicam ambos esse retirar abrupto de um dos pratos da balança.

No caso de Jesus, as suas idéias implicavam no seu tempo, e implicam ainda hoje, a interrupção da ordem estabelecida, o que pode levar a movimentos desequilibrantes na sociedade, movimentos esses que os poderosos temem. Se de repente todos nos amássemos uns aos outros, toda a ordem da sociedade seria invertida, porque tudo está planeado de acordo com a idéia de que cada um procura o seu próprio proveito, e todas as instituições estatais e económicas funcionam segundo esse princípio. Se de repente esse princípio desaparecer, como irão as pessoas gerir o dia-a-dia mundial a partir de amanhã?

Da mesma maneira, a introdução de uma energia gratuita e limpa, de repente, pode abalar as estruturas sobre as quais o mundo assenta hoje em dia, uma vez que o petróleo e os custos a ele associados coordenam todas as actividades humanas a um nível global, o que equivaleria igualmente a um "retirar repentino de um dos pratos da balança"...

e é isso que os dois últimos posts têm em comum :)

19 de outubro de 2007

Eu a armar-me em crítico de musicais

Jesus Cristo Superstar

Um espectáculo muito bom, que mostra e provoca emoções profundas, embora descaradamente, ou melhor, declaradamente. A intensidade e o tipo de emoções vão subindo e descendo, virando e voltando, em "ondas" que se sucedem num movimento constante através de algumas cenas da vida de Jesus. A coreografia e a música (ao vivo) têm muita qualidade técnica e estética, e as vozes dos cantores são duma afinação incrível.

Adopta uma perspectiva diferente do habitual, próxima da humanidade limitada e real com que as pessoas se relacionam com Jesus. Mostra muito bem a complexidade e variedade das diferentes reacções que existem: há os que fazem troça num misto de curiosidade e cinismo; há os que ficam incomodados com qualquer coisa de verdadeiro que vêem na sua vida e que não sabem o que é; há os que o seguem de maneiras que não eram supostas, como a violência e o poder; há os que se sentem ameaçados pela liberdade e bondade de Jesus e que o querem eliminar; há os que se mantêm de coração aberto e confuso, e que se vão transformando interiormente, genuínos, fracos e humildes, no seu rasto; etc.

Infelizmente, há também um defeito grave: não sei o que passou pela cabeça do La Féria, mas o personagem principal, Jesus, tá horrível, embora também muito bom técnicamente. Mas com uma voz de falsete muito estranha, um cabelo meio falso, uma aparência enjoadinha e frágil, às vezes nem se percebia o que dizia, porque fazia uns "trejeitos" estranhíssimos com a voz. Contrastava com todos os outros actores/cantores, que estavam fantásticos. Não me parece ter sido por acaso esta opção, uma vez que tudo o resto estava mesmo bem, e uma vez que estes pormenores nestes espectáculos são controlados ao ínfimo detalhe. Acho que deve ter sido mesmo uma interpretação muito estranha por parte do La Féria, ou então um péssimo gosto, que, a ser assim, não é coerente com o óptimo gosto de tudo o resto. Muito estranho!

Mas isso não impediu o grande prazer que senti por ter tido a oportunidade de assistir a um espectáculo como este, uma verdadeira ópera dos tempos modernos :)

18 de outubro de 2007

Estou maravilhado com isto: vejam bem, os ímans da roda de fora aproximam-se, e os ímans da roda de dentro começam a girar com uma força incrível. É um motor simplicíssimo e que cria energia sem gastar! Acho que é o futuro da energia! Gratuita, limpa, simples... vejam "magnetic motor" na net =)

17 de outubro de 2007

Gostei :)

desta
e
desta

(aqui)

Outubro no Porto


Eu devo ter sido feliz em algum(s) dos meus primeiros outubros, porque gosto deste mês! A não ser quando chove. Mas estes pôres do sol dourados, o cheirinho do ar de manhã já a começar a ficar frio, o azul profundo do céu ao fim da tarde... etc., etc.! Sou só eu??

(a imagem é daqui)

12 de outubro de 2007


Hoje é um dia profissionalmente memorável para mim. E ironicamente, lembrei-me duma coisa sobre as profissões e as pessoas que gostava de partilhar. É que uma profissão não é mais do que um conjunto de tarefas, que qualquer um pode fazer. Umas mais difíceis, outras mais fáceis, mas... tarefas! E acho bastante estúpido que as pessoas na nossa sociedade se deixem definir tanto pela profissão.

Não somos nenhum software informático nem braços mecânicos, mas o que fazemos no trabalho, mais cedo ou mais tarde, vai poder ser feito por um software e um braço mecânico, porque não é nada de mais... são tarefas! Que é que importa se é organizar livros numa biblioteca, ou fazer contas num escritório, ou avaliar sintomas num consultório, ou fazer argumentos num tribunal? É tudo tarefas!

Afinal, o valor duma pessoa, e que faz dela única, está na pessoa que a pessoa é! Na capacidade de envolvimento com os outros, na contribuição única que as suas atitudes dão às vidas dos outros, na sabedoria de vida, no viver em si! Nessa área, cada pessoa é mesmo única e com um valor inestimável para os seus próximos. E o que a define não é de maneira nenhuma o que faz profissionalmente. E se é assim para os seus próximos, que importa o que é para os não próximos?

Emancipemo-nos, minha gente!! Emancipemo-nos das nossas próprias prisões e rótulos, e libertemo-nos! Somos livres para fazer do mundo o que quisermos que ele seja, e muito mais do nosso próprio mundinho privado!

Como o grande Bob Marley dizia, "No one but ourselves can free our minds"!

10 de outubro de 2007

O dia estava espectacular. Sol, uma brisa de leste, e um cheirinho bom no ar. Estava a olhar para o mar quando a vi.
Mexia-se com uma lentidão graciosa que constrastava com o atrevimento dos seus gestos. A atracção foi imediata.
Vinha na minha direcção e as suas formas pareciam cada vez mais nítidas e definidas. As curvas, as linhas do seu corpo, brincavam umas com as outras numa dança sensual. Era mesmo apetecível.
Sem sequer pensar nisso, um instinto primitivo decidiu dentro de mim: ela era minha. Fui atrás dela. Ficámos frente a frente, voltei-me, e por um bocadinho avançámos na mesma direcção. Eu não tirava os olhos dela.
Quando nos juntámos foi magia pura. Primeiro tocou-me, depois segurou-me, tentando envolver-me e agarrar-me. Num só movimento, pus-me em cima dela. Estávamos em perfeita sincronia.
Percorri-a ávidamente, subindo e descendo, voltando e recomeçando, em breves momentos que pareciam eternos, suspensos do tempo. Sentia-a mesmo embaixo de mim, as suas curvas a vibrar, cheias de energia.
O desgaste físico deixou-me sem fôlego. Acabou tão rápido como começou, e sem que eu desse por isso, ela pareceu esvaír-se na praia.
Virei-me e fui em direcção ao horizonte, lentamente, a pensar nela. Foi então que levantei os olhos e vi, ao longe, outra, ainda melhor que ela. E tudo recomeçou outra vez, e depois dessa apareceu outra, e outra, e outra!!
Ao fim do dia não me conseguia mexer de cansaço, de prazer, de satisfação. E adormeci profundamente, a desejar que no dia seguinte voltasse a estar bom para...
surf!! ;)

1 de outubro de 2007

life! oh, life... oh liiiife... oh life tururututu

Vem Janeiro e vejo "isolamento" num vidro cinzento cheio de gotas de chuva. Vem a Primavera e vejo "entusiasmo" nas flores e nas folhas. Vem o Verão e vejo "aventura" nas malas e nos carros. Vem o Outono e vejo "segurança" no cheiro da lenha queimada da sala quentinha dos primeiros dias frios. E isto é só uma pequena amostra.

Porque é que não vejo "isolamento" quando estiver realmente isolado, "entusiasmo" sempre, "aventura" quando me apetecer e "segurança" quando realmente a tiver? Parece que somos escravos de associações e significados formados ao longo da nossa vida, e que passamos a viver o presente através do passado, sem actualizar essas associações e significados, sem permitir que as experiências actuais criem outros.

Por outro lado, essa função de associar sensações a coisas e experiências parece ser também importante porque é uma forma de conhecimento do mundo, o que nos permite não só aproveitar em maior profundidade o que vier depois, mas também ter um grau mínimo de previsibilidade sobre aquilo que nos pode acontecer.

Talvez não seja bom largar as associações e significados que colecçionámos ao longo da vida, mas também não é bom que elas impeçam a formação constante e fluída de novas associações e significados. Talvez o melhor seja um equilíbrio entre estes dois extremos. Como é que se faz para atingi-lo? Como manter sempre uma relação fresca, directa, imediata, actual, intensa, profunda e nova com a vida?

Está aberto o plenário (ando numa de pedir a vossa opinião!)

28 de setembro de 2007

Se um dia se aumentar a esperança de vida de tal maneira que ela passe a ser eterna, isso vai ser uma prova de fé para quem acredita na vida eterna espiritual... largar a vida eterna biológica que se tem por certa, pela vida eterna espiritual em que se acredita! Comentários são bem vindos, não me deixem sozinho com esta :)

22 de setembro de 2007

Amor e Realidade


Há dias em que vemos as coisas com uma realidade acutilante. Outro dia dei por mim a pensar que viajar a não sei quantos mil kms/hora em cima duma bola gigante à volta duma bola ainda mais gigante de fogo, no meio de um escuro de milhões de milhões de quilómetros de vazio, não parece muito seguro. Dei por mim a desejar que pudéssemos encontrar um cantinho aconchegante onde pousar a nossa "nave", talvez com uma redoma a proteger de cometas e asteróides, e com uma luz agradável e suave a envolver o ambiente.

A verdade é que as condições do nosso planeta são o resultado duma probabilidade de ocorrência de um para milhões, mas aconteceu. Depois, aparecer vida na Terra é outra probabilidade da mesma pequeneza, que aconteceu. E depois, dentro da vida na Terra aparecer um animal especial como o Homem, é, sem querer ser repetitivo, mais uma probabilidade da mesma pequeneza, e aconteceu. E, dentro do Homem, terem nascido os meus pais, é mais uma probabilidade mínima. E, dentro dos meus pais, o espermatozóide e o óvulo que me deram origem se terem juntado, foi mais uma probabilidade mínima. E, por último, dentro da minha vida, eu ter sobrevivido até hoje, foi também uma probabilidade mínima e que aconteceu.

A minha vida é um milagre improvável... e, pensando bem, tudo o que acontece de importante na nossa vida é um milagre improvável: ter condições para o estilo de vida perfeito para nós, encontrar pessoas que nos completem realmente, e simplesmente chegar a velho é um milagre improvável.

Isso é mesmo típico do Amor: fazer-se passar por milagre improvável quando na realidade, Ele é a única hipótese plausível. Mas também isso faz por Amor: quer ser para nós uma opção e não uma imposição, por respeito à nossa liberdade. Por isso, como dizia Pascal, manifesta-se àqueles que O buscam e esconde-se àqueles que O tentam (isto é, aqueles que duvidam ou negam).

Se eu pudesse, talvez procurasse um cantinho seguro e aconchegante no Universo. Mas não há nada a fazer, estou completamente apanhado: acredito em milagres improváveis. Acredito no Amor nesta vida e depois desta vida, e acredito que o nosso cantinho seguro e aconchegante está à nossa espera para lá deste Universo :)

16 de setembro de 2007

Tá giro :) e tb gosto mt da Keira ;)

11 de setembro de 2007

Já lá vai Agosto, já lá vai o tempo sem tempo.

A roda da vida continua a girar.

"Não tenhas medo da morte, Winnie. Tem antes medo da vida não vivida."


8 de setembro de 2007

É bom

Olhar para o nosso interior como se fôsse um jardim, conhecer as ervas daninhas, a terra sêca, os pedregulhos, e também a terra fértil, a erva boa, as flores.

Saber o que existe no nosso jardim para vivê-lo mais intensamente, e podermos fazer o que quisermos em relação ao que temos lá.

É bom tratar dele, cuidar das flores, deitar fora os pedregulhos, regar a terra, ter um jardim bom e acolhedor.

Para nós, que somos quem vive lá sempre; e para os outros, que vão lá às vezes.

2 de setembro de 2007

Gosto de elefantes =)

"Um elefante selvagem protagonizou uma curiosa história de amor na Índia, ao destruir a jaula de um circo e fugir com uma elefanta, na região de Bengala. Segundo a agência IANS, atraído por ruídos, o macho de 26 anos ultrapassou as grades para entrar no estábulo onde estavam as fêmeas do circo "Olympic", que levantou sua lona na cidade de Raniganj há dez dias.

O elefante escolheu como companheira a fêmea Savitri, que destruiu a corrente com a qual estava presa e escapou com o macho rumo a uma floresta. Segundo a IANS, o casal foi visto divertindo-se perto de um lago. Depois que os dois foram localizados, uma equipe do departamento florestal tentou atrair a fêmea, mas sem sucesso. Savitri enlaçou sua tromba à do companheiro, o que seus tratadores interpretaram como um sinal de desafio. (...)

Gayatri, outra fêmea do circo, muito próxima a Savitri, estaria deprimida com a fuga da amiga.

- Tive que cancelar o espetáculo porque a outra elefanta, Gayatri, está sentindo falta da amiga. Até deixou de comer - disse Banerjee (proprietário do circo) ao diário "Times of Índia".

Os oficiais do departamento florestal ainda tentam resgatar a elefanta. Os dois foram vistos pela última vez caminhando por uma estrada no distrito de Raniganj."

(aqui)

E mais esta:

"PEQUIM (Reuters) - Um elefante ex-viciado em drogas, que foi alimentado com bananas cheias de heroína por tratadores ilegais, vai retornar à vida selvagem após ser curado de seu vício por meio de metadona e contínuo tratamento.

"Grande Irmão", um elefante que uma vez "viveu pacificamente" com seu bando perto da fronteira da China com Mianmar na província de Yunnan, foi capturado por tratadores em 2005, informou o China Daily na quinta-feira.

"Para controlá-lo e para que ele pudesse liderar a manada para onde eles queriam, os tratadores o alimentaram com bananas cheias de drogas", disse o jornal.

Os tratadores, entretanto, foram presos tentando vender o "Grande Irmão" e seu bando após um aviso à polícia florestal.

O elefante desenvolveu uma feroz dependência de heroína e se tornou um perigo às pessoas que lhe negavam uma dose, afirmou o jornal, citando a polícia. (...)

Depois de ser diagnosticado com dependência de heroína, as autoridades do parque em Hainan passaram um ano cortando gradativamente sua dependência por meio de metadona, além de banhos e massagens regulares.

Agora, livre do vício, o "Grande Irmão" vai em breve retornar para casa.

(Por Ian Ransom)"

(aqui)

Air Race

Nunca o Porto viu uma coisa assim. Como uma pessoa de quem eu gosto muito disse: "até fiquei com os pêlos eriçados" (eheheeee)

O ar é o meio mais nobre para um desporto motorizado, fora o facto de permitir ser visto por toda a gente que esteja cá embaixo, muito mais do que um circuito qualquer de carros ou motos.

Ver aquelas máquinas a fazer guinadas à nossa frente, a 400 kms/hora, e depois subirem até às alturas a fazer um looping, etc., é demais!

A juntar a isto a beleza do Porto e do Rio Douro, e os dias espectaculares que estiveram...

Nem sei se gostei mais dos aviões da competição ou dos 6 jactos que voaram nos intervalos só para dar espectáculo. Potência, harmonia, elegância, arte... Demais!

Foi o evento mais espectacular que Portugal já viu. Quem teve a idéia de trazer isto para cá está MESMO de parabéns!

O mundo está de pernas para o ar

http://sic.sapo.pt/online/noticias/vida/070831_Uma+casa+ao+contrario.htm

31 de agosto de 2007

Choque nº 1: a pequena Maddie desaparece.

Choque nº 2: torna-se um fenómeno de audiências com a consequente exploração pela comunicação social.

Choque nº 3: os pais de Maddie exploram a comunicação social para mobilizar o processo de investigação, gerando uma relação estranha entre ambas as partes.

Choque nº 4: aparecem rumores de que a pequena Maddie pode não ter sido raptada, mas morta, talvez até por pessoas dentro do círculo de amigos dos pais.

Choque nº 5: de repente a pequena Maddie deixa de ser notícia de primeira página, parecendo que o caso estagnou, diluíndo-se no meio de outras notícias, agora mais importantes.

Choque nº 6: ao fim e ao cabo, sobre o que aconteceu à pequena Maddie, ainda não se sabe nada.

30 de agosto de 2007

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.......Queria passar
..............................a dureza do ar
.......................................................que te afasta de mim
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Queria poder
.....-..........................................apertar-te e perder-me
................levantar a distância
............................................. ......................na tua segurança
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............Mil mares
...............................de penas e sonhos
..............................................................levaram-me a ti
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-........................................................nasci
.......Agora que te vi,
......................................só agora,
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...........E morro de saudades
....................................................de tempos que não vivi
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.................................................prazer agoniante
....Contradição maliciosa
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...............Leva contigo
...........................................o sorriso deslumbrante
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...................................o olhar penetrante
.....Leva contigo
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............Leva contigo
....................................o cabelo a dançar
......................................................................na tua pele
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....Tem piedade de mim,
............................................sou vida ainda
.........................................................................mas que já morreu
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.........Se tens que ir embora
....................................................deixa ficar um beijo teu
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Mais uma

A vida real muitas vezes faz lembrar os filmes, e isso é giro :) também adoro este tipo de notícias:

"Adolescente troca iPhone por carro"

"George Hotz, de 17 anos, ganhou um carro Nissan 350Z e três iPhones com 8 gigabytes de capacidade em troca de seu iPhone destravado. O adolescente americano conseguiu fazer com que o celular da Apple funcionasse com qualquer operadora. O equipamento, que só foi lançado nos Estados Unidos, vem preparado para funcionar somente com a AT&T."

"Ele dedicou 500 horas de trabalho para fazer o celular funcionar com outras operadoras. Terry Daidone, co-fundador da CertiCell, prometeu também um trabalho de consultoria ao adolescente."

(aqui)

28 de agosto de 2007

O maior diamante do mundo


Encontrado o maior diamante do mundo - 1,5kgs, o dobro do anterior maior diamante do mundo

adoro estas notícias =)

(aqui)

Homenagem aos cães


Acho que já disse aqui e volto a dizer: nós somos animais. Irrita-me imenso a fronteira que a Humanidade resolveu convencer-se que existe entre si e os animais. Na minha opinião não há uma fronteira, mas sim alguma distância. E mesmo essa distância limita-se a alguns domínios, porque noutros quem está à frente é a Natureza.

De qualquer maneira: o animal que me espanta mais é o meu cão, por várias razões: por exemplo, ele conhece-me melhor em algumas situações do que eu próprio. Esta até talvez seja porque tem consequências para ele, mas é incrível como ele não se aproxima de mim quando eu estou capaz de lhe dar uma sapatada. Quando faz uma asneira, juro que ele sabe muito melhor do que eu quando é que fico só irritado, ou irritado ao ponto de lhe bater. E avalia isso tão bem, que realmente raramente lhe bato, porque quando se deixa apanhar é porque já não estou capaz de lhe bater. Enfim, pormenores como este são às dezenas, quando se vive com um cão.

Ouvi dizer que a afectividade de um cão tem a mesma complexidade da de um bébé de 2 anos, o que é imenso. Ao estudar psicologia e ao observar o meu cão, estou convencido de que há alguns pontos em comum, por mais pequenos que sejam, na psicologia humana e na psicologia canina. O meu cão tem necessidades afectivas: ele tem saudades, ele amua, ele exige afecto, ele tem depressões, etc. Ele absorve e é afectado pelo clima emocional da casa.

Eu sei que um cão não é uma pessoa, mas também sei que não é "nada". É um ser que está connosco nesta aventura de descoberta que é a Vida, embora talvez num estádio mais primitivo. E, embora menos racional que o Homem, é sem dúvida um animal relacional, com o qual se podem estabelecer relações afectivas que têm muitos pontos em comum com as relações humanas. A distância que nos separa é tão grande quanto a distância que existe entre duas espécies animais, mas entre estas duas espécies construíu-se uma ponte muito curiosa. Depois de milhares de anos de relação, nós humanos já estamos previstos nos genes dos cães com uma função importante, e acho que vice-versa também.

Para acabar, um facto que enaltece a nobreza do cão: é o único animal doméstico que, ao longo da evolução, se aproximou do Homem não em termos de caçador-caçado, mas por uma associação natural entre dois seres que partilhavam as mesmas presas e os mesmos terrenos de caça. Pouco a pouco o cão foi-se aproximando dos nómadas primitivos, eventualmente desenvolvendo uma função importante na caça, e recebendo no fim o seu quinhão. Eventualmente, na noite dos tempos, o cão aqueceu o Homem e o Homem passou-lhe a mão na cabeça, tornando-se os melhores amigos.

água... quero água... as minhas guelras estão a secar... socorro!!

27 de agosto de 2007

Agosto no Porto...


...alguns minutos antes duma trovoada. Adoro aquele cheirinho a terra molhada depois duma chuvada no Verão...

Se este post parece estar carregado dum tom melancólico... é porque estou cá e não noutro lado. A sugar ao máximo os cheiros que aparecem... :-|

19 de agosto de 2007


Quando é que nós, cristãos, e nós, católicos, vamos perceber que em Deus não há fronteiras? Quando é que nós, que gostamos mais dos Jesuítas, ou mais dos Opus Dei, ou Verbum Dei, etc., vamos perceber que em Deus não há rótulos nem leis? Só há quem O acolhe mais e quem O acolhe menos. Só há quem O conhece melhor e quem O conhece pior.

A única lei no caminho para Deus é que Ele não se pode negar a Si mesmo: não pode deixar de ser Amor, não pode deixar de ser humilde, não pode deixar de respeitar a liberdade de cada um, etc, etc.

Se queremos encontrar a Deus, só precisamos de aprender a estar com Ele. Aprender com alguém que O conheça melhor, senti-lO no coração, lêr sobre Ele na Bíblia. Mas sem nunca nos esquecermos de duas coisas: primeiro, ninguém nos pode ensinar tudo sobre o caminho: temos que aprender a reconhecê-lo ora aqui ora ali, sem nos determos numa única pessoa ou num único tipo de espiritualidade.

Segundo, apesar do caminho ser diferente para cada pessoa (porque Deus tem uma relação pessoal e única com cada pessoa), há traços gerais que são comuns a toda a gente, porque Deus é sempre O mesmo, e é por isso que podemos aprender esse caminho através de outros que o tenham percorrido.

Acredito que um dia os cristãos (com todas as Igrejas cristãs juntas), voltarão a viver o que está descrito no Novo Testamento: os cristãos viviam com um só coração. Sonho com esse dia, sabendo que só assim é que esta fé tem sentido.

Em busca da felicidade

Hoje vi ao ar livre o filme "Em Busca da Felicidade", com o Will Smith e o filho, que é um castiço.

É uma história que diz respeito a toda a gente. Todos temos épocas difíceis, em que as coisas estão descontroladas, os nossos planos falham, as pessoas à nossa volta falham ou andam descontroladas também, e é difícil saber onde está o norte, o bom senso, a atitude correcta. O nosso auto-conceito treme, o ânimo também, os limites da resistência e da paciência testam-se.

Nessas alturas, só em nós podemos encontrar o sentido e a força para continuar. As nossas ideias e atitudes parecem loucas aos olhos dos outros, que querem encaixar-nos nos esquemas que lhes são familiares, esquemas que muitas vezes nos reservam um papel no qual não somos nós próprios. E se deixarmos, acabaremos por resignarmo-nos.

A mensagem do filme é esta: não desistirmos. Mantermo-nos sãos e íntegros pelos nossos próprios critérios, e persistir. No fim, acabará por melhorar, e se não melhorar, teremos o consolo de termos permanecido íntegros e fiéis a nós próprios.

(aqui)

14 de agosto de 2007

Vai um surfzinho?


"Havaí decreta estado de emergência por chegada de furacão
Tempestade Flossie passará a cerca de 140 km da maior ilha do arquipélago com ventos de até 223 km/h"

(aqui)

11 de agosto de 2007

Olá estrela ;)

Outro dia vi num documentário que o facto de existir ferro no nosso planeta e, mais interessante, no nosso corpo, indica que a matéria de que somos feitos vem de uma estrela, uma vez que o ferro é criado nas altas temperaturas e reacções químicas das estrelas que explodem...

Somos feitos de estrelas :)

Agosto no Porto...

9 de agosto de 2007


Era uma vez no Porto um chá que melhorava o raciocínio e gente que não gostava de raciocinar :)

8 de agosto de 2007

Mais reflexões

Hoje pus-me a pensar que, para que duas pessoas estejam apaixonadas, não basta aquilo que cada uma é, mas é muito importante aquilo que acontece entre elas, a teia de acontecimentos que se gera. Se calhar o Romeu e a Julieta não se teriam apaixonado se os acontecimentos que rodearam a sua história tivessem sido outros. Uma amiga minha diz que tem que haver qualquer coisa de inesperado, tipo encontrarem-se por coincidência duas vezes ou mais, como se houvesse uma espécie de aprovação por parte do acaso.

Não controlamos as coisas, não podemos dizer "vou-me apaixonar por aquela pessoa naquele momento", só podemos saber reconhecer a pessoa e o momento e atirarmo-nos de cabeça quando os sentirmos. Isto faz pensar que as coisas já existem em potência dentro de nós, e que são despoletadas pelas condições exteriores certas. É engraçado, há condições exteriores que puxam por nós e por aquilo que nós somos mais profundamente, e que nessas situações vem ao de cima (agora já não estou a falar só de paixões). Neste sentido, a manifestação de quem nós somos está dependente de condições exteriores específicas que façam emergir as nossas reacções mais verdadeiras.

Por outro lado, nós também influenciamos as condições exteriores com as nossas reacções, numa relação recíproca de influências (isto também vem na linha da última reflexão). Muitos de nós temos gritos interiores a quererem saír, emoções e sentimentos relativos a coisas específicas que não saem por não se ter gerado a situação certa que despoletaria essa exteriorização. Um exemplo típico disso, infelizmente pela negativa, é quando percebemos que gostamos de alguém e que queríamos tê-lo dito, depois da pessoa ter desaparecido da nossa vida. O grito "gosto de ti" estava lá dentro, mas a situação que proporcionou a emergência desse grito veio tarde demais.

Tudo isto está relacionado com a discrepância ou não que pode haver entre o nosso interior (a nossa identidade) e o que se passa ao nível da acção, das experiências que vivemos todos os dias. Acho que o ideal é que não haja essa discrepância, e que a nossa identidade esteja totalmente representada nas nossas experiências. Que aquilo que nós somos em potência se manifeste na realidade. Para isto, é preciso implicarmo-nos nas nossas acções, reagirmos sempre do fundo do nosso coração, encontrarmos a seriedade dentro de nós, aquilo que nos importa, e reagir sempre aos acontecimentos com as atitudes que mais nos representam.

Certas pessoas, em certas épocas, vivem vidas em que esta relação recíproca entre as coisas que lhes acontecem e as reacções que têm perante os acontecimentos é tão afinada, tão autêntica, tão exteriorizada, que atingem um estado extremo de definição da sua identidade, de tal maneira que não se imagina que fosse possível terem sido diferentes do que foram, ou de terem tido outra vida. É realizante para o Homem concretizar através de reacções reais aquilo que sente por dentro, e que muitas vezes nem percebe que o sente.

Afinar a nossa relação com a vida, procurando estar nas situações que nos dizem realmente respeito, e reagindo com aquilo que somos realmente, é muito importante. Voltando ao tema das paixões, acho que quem vive assim reconhece mais facilmente a pessoa e o momento certo e tem menos desilusões.

3 de agosto de 2007

Há músicas que não consigo ouvir só uma vez. Fisherman´s Blues é uma delas.

2 de agosto de 2007

Reflexões

Uma vez ouvi dizer que alguém disse: "dêem-me um ponto de apoio e levantarei a Terra", ou coisa parecida. Também se poderia dizer: "dêem-me uma perspectiva neutra e verei a verdade". Mas deve ser mesmo muito difícil a um homem conseguir ter uma perspectiva neutra. Nós estamos, muito mais do que pensamos, inseridos em perspectivas anteriores a nós, nas quais nos vamos encaixando, e que não são perspectivas neutras nem livres. Pensamos que agimos sempre segundo o nosso livre arbítrio, mas muitas das nossas motivações têm raízes biológicas comuns a toda a espécie humana, e com uma lógica ligada à sobrevivência. Nós somos animais...

Mas é engraçado como nada disto é um impedimento para a convicção de que, apesar de sermos animais com dificuldade em ver e em escolher para além da nossa animalidade, somos seres a caminho. Donde vimos? Da animalidade. Mas para onde vamos?

Para responder a essa pergunta é preciso ter acesso à tal perspectiva neutra, a verdade. Mas acho que, mesmo sem saber que verdade é essa, pode-se dizer que caminhamos da animalidade para a verdade.

Mas o que é a verdade? O que é a existência? Se fossemos capazes de ver a tal perspectiva neutra, livre de qualquer tipo de influência, o que veríamos na existência? Um grande vazio? Ou a plenitude total? Há quem diga que quanto mais inteligente se é, mais infeliz. Esses são os que estão do lado "verdade como um grande vazio". Mas se a verdade for a plenitude total, então quanto mais inteligente, mais feliz se é, uma vez que se está mais perto da verdade. Será assim?

Já pensei que seria assim. Mas em várias das áreas do conhecimento humano, a tendência actual é a de que não se pode compreender a realidade se não analisarmos a interacção complexa entre os vários elementos que se relacionam entre si. Ou seja, existir é estar em relação com o resto das coisas que existem.

Por isso, se existir é estar em relação, então a verdade provavelmente será também uma relação e não uma ideia estática. E, sendo assim, o melhor método para se chegar à verdade será também uma relação e não um método abstracto como a inteligência. Ou seja, já não me parece que esteja na inteligência a capacidade de se chegar à verdade, mas sim na interacção com o mundo: na relação com as outras coisas que existem.

Está bem, então a verdade é uma relação, e encontramo-la relacionando-nos. Mas indo mais longe, podemos perguntar-nos: que tipo de relação é a verdade? Em qualquer relação, quando uma coisa se encontra com outra, a interacção com a outra coisa pode provocar dois tipos de reacção: atracção ou repulsa. Partindo do princípio de que a relação ideal entre duas coisas é aquela que provoca uma atracção mútua, pode-se dizer que a relação ideal é o amor.

Chegamos então à conclusão de que a existência é uma relação, e de que, sendo a relação perfeita uma relação de amor, a verdade é o amor. E quem está mais perto da verdade? Acho que não é aquele que é mais inteligente, mas sim aquele que mais ama.

Finalmente, se se acreditar, como eu acredito, que não existe amor sem perdão, e que nem um nem outro existem sem humildade, compreende-se facilmente a ideia tão difundida pelo Evangelho, de que Deus (o Amor, a Verdade) se revela aos pequeninos e se esconde aos sábios e inteligentes. Por outras palavras, é uma indicação de qual a maneira certa de se chegar à Verdade.

1 de agosto de 2007

Férias

Ver coisas novas, cheiros diferentes, paisagens grandes... alimento para a alma. Remeter, ainda que por breves instantes, para um tempo remoto em que o Homem nómada prescrutava a terra em busca de vida, encontrando-a mais no caminho do que na meta. Trocar gestos e sorrisos com pessoas que nunca mais veremos, numa atracção recíproca pela diferença de culturas. Respirar fundo.

Jazzaldia 2007 (Festival de Jazz de San Sebastian)

Fantástico!

23 de julho de 2007

Avisa-se os interessados (se houver)

Este blog estará encerrado durante esta semana, o proprietário estará ausente por motivos de... férias!! :)

22 de julho de 2007

AAAHHH!!

FFÈERRIIIAAAASSSSSSS!!! AAAAAAAAHHHHHHHH!!! NEM ACREDITO!!

19 de julho de 2007

É só a mim que acontece?

Ou vocês também se irritam com o raio do formatador automático ou lá o que é, do Word, que passa a vida a mudar os pontos e as posições dos números, e a pôr e tirar coisas que eu não quero? :p

18 de julho de 2007

Há coisas engraçadas

Há uma gaivota, no bairro aqui ao lado, que, sempre que passo por lá com o meu cão, põe-se a voar aos círculos por cima de nós, e a fazer uns grasnidos como quem está zangada... será que faz isto a todos os cães, ou embirrou com o meu? Será que está a proteger uma ninhada? Será que o meu cão alguma vez lhe fez mal? Ou é só uma gaivota mal disposta?

16 de julho de 2007

(banda sonora: Katie Melua - I cried for you)

Ainda bem que para Deus não é fazer as coisas direito que conta, senão eu bem que tava lixado. Mas é bom saber que para Ele valho tanto a fazer tudo perfeitinho como a fazer tudo mal. E se é assim para Ele, como poderia não ser para toda a gente?

O que conta é sabermos acolher o amor e viver em perdão, e para isso não é preciso fazer nada direito. Ou melhor, isso é fazer tudo direito, segundo o critério que realmente importa.

14 de julho de 2007

Comprido...

...mas se tiverem paciência, é muito bom.

11 de julho de 2007

Adoro estas notícias lol

Lula gigante aparece morta em praia da Tasmânia

Uma lula gigante de mais de quatro metros de comprimento da cabeça até a ponta dos tentáculos apareceu morta numa praia da ilha da Tasmânia, na Austrália.
O animal, que os especialistas consideram pertencer ao género «Architeuthis», nunca tinha sido visto no litoral oeste da ilha. Mas é o alimento habitual dos cachalotes, que frequentemente ficam encalhados na região, informou a rádio estatal.

Uma equipa de cientistas liderada por Genefor Walter-Smith, do Museu de Tasmânia, deslocou-se até à praia, próxima à localidade de Strahan, para estudar o exemplar.

A lula gigante foi descoberta na terça-feira à noite. Os tentáculos encontram-se danificados, o que dificulta o cálculo do comprimento exacto do exemplar.

11-07-2007 10:29:32

(aqui)
Podíamos ser todos tão tão felizes se desenvolvessemos todo o nosso potencial de amor...

9 de julho de 2007

Tudo é linguagem


Ou nem tudo, mas na minha linguagem digo tudo, quando quero exprimir intensidade. Tipo "tudo é paz"...

Mas pronto: tudo é linguagem. As coisas dizem-me coisas, sem saberem que o dizem. Por exemplo, as folhas verdes das árvores falam, dizem-me coisas, tipo "viver é bom, ainda que seja passageiro". Mas dizem-me muitas coisas mais. E nós, também dizemos coisas sem saber que as dizemos. Tipo "tou chateado", ou "gosto de ti"...

Nós somos uma espécie com muitos anos de desenvolvimento, e aquilo que dizemos sem querer tá previsto no nosso código genético. Mas é engraçado como coisas que não vivem nem têm espécie podem falar sem terem sido elas que falaram. Só pelo facto de existirem, e pela maneira como existem, dizem-nos coisas.

Já para ouvir o que elas dizem, é preciso estar vivo, e cada ser ouve coisas diferentes na maneira como as coisas existem. Tipo, eu posso ler numa pedra "paz", e tu podes ler "caos"... Isto acontece porque tudo é linguagem.

E a linguagem tem vários níveis: desde a mais específica e subjectiva, como aquela que só eu sei decifrar (porque foi construída através de associações entre experiências que só eu vivi com significados que só eu atribuí); passando por linguagens partilhadas por pequenos grupos (porque associaram em comum experiências que só eles viveram a significados que só eles atribuíram)... passando ainda por linguagens partilhadas por grandes grupos... e subindo por aí fora até que, acredito eu, chegamos a uma linguagem universal.

Em última análise, a existência tem qualquer coisa de comum a todos os seres, e é possível que todos atribuam os mesmos significados a experiências universais pelas quais todos passam. Tipo "amor é bom".

Amor... essa sim, é uma linguagem universal :)

rasta versão gera rasca

Sem querer ofender, irmão, posso fazer-te uma pergunta? Quem és tu para me dizeres como viver a minha vida? "Eu não existo para corresponder às tuas expectativas, nem tu para corresponder às minhas. Segue o teu caminho, que eu sigo o meu, e, se por acaso os dois se encontrarem, será maravilhoso".

Se vieres, não venhas com expectativas. Deixa que os actos falem por si. Se o que disserem for bom, será maravilhoso. Senão, vai à tua vida, irmão, que eu vou à minha.

No fim, poderemos encontrar-nos, se tivermos chegado ao mesmo sítio. E será maravilhoso. Mas não me digas como viver a minha vida, irmão, que eu também não te digo como viver a tua.

Tá? yeah...

Stressing mode: ON!!

O modo "stress" encontra-se ligado a fundo pelo menos até sexta-feira...

7 de julho de 2007

Fazer reagir


Terapia. Hoje disseram-me que essa palavra vem de "fazer reagir". Fez muito sentido... É exactamente isso. Só lhe juntava uma palavra: "dirigido". Terapia é um "fazer reagir, dirigido". Porque nem tudo o que faz reagir cura, acho eu... pois não? Podemos andar a reagir e reagir a vida toda sem que isso nos traga alívio ou plenitude. Mas fazer reagir daquela maneira que é mesmo a que nos faz falta... ah, isso sim, é terapia :)

6 de julho de 2007

Comentários não publicados

Amigos, leitores, colegas bloguistas :)

Soube dum comentário que fizeram que não me apareceu nem no mail nem no blog, e houve três comentários que estavam no blog e que não me apareceram no mail, e que por isso não os tinha publicado. Vou tirar a moderação de comentários, para ver se isto não volta a acontecer. Se voltar a acontecer desculpem, n tenho culpa... :/
Andar de mota num dia de sol e calor é das coisas melhores que há. Ir ao cinema com um amigo a devorar pipocas tb. Fazer as duas coisas no mm dia... é bem bom!

5 de julho de 2007

Amen, brothers and sisters!

"As santas que conheci não se preocupavam com sê-lo. E, em comum, o passar pelo mundo com uma grande naturalidade e alegria como se nunca tivesse havido lei nem moral. Sem pensar, cada uma delas dava mais amor do que o sol luz." Christian Bobin, Ressuscitar (obrigado Margarida)

Apesar de cristão católico, muitas vezes sinto e exprimo uma grande crítica em relação à Igreja, por várias razões, embora diferentes das razões frequentes da opinião pública. Não por questões que tenham a ver com preservativos, celibato dos padres, sacerdócio de mulheres, mas por razões que têm a ver com a origem e o fim da vida cristã: o amor, que muitas vezes não se vê nos membros da Igreja.

Mas o Senhor tem vindo a ensinar-me como lidar com isso. Primeiro, mostrou-me que a crítica e o perdão não se podem separar, mas que é bom que estejam sempre juntos. Depois, mostrou-me que os padres, os bispos, e toda a Igreja, perante a enormidade de Deus, são como um conjunto de adolescentes bem intencionados e desajeitados, que não têm uma consciência total do que estão a fazer, ajudando-me assim a perdoar mais facilmente.

Finalmente, fez-me tomar consciência da minha incoerência: se eu tenho conseguido encontrar Deus apesar dos ambientes pouco propícios a esse encontro, como eles; se ainda não O conheço bem, mas só um bocadinho, como eles; e se muitas vezes não ajo em conformidade com aquilo em que acredito, como eles... então por que me irrito tanto com eles?

Hallelluia! :)

4 de julho de 2007

Razão/emoção?

Mas o que raio é que o mundo de hoje tem contra as emoções? Ou melhor, o que raio é que o mundo "sábio" de hoje tem contra as emoções? Parece que hoje em dia só há dois tipos de pessoas: aquelas que vivem emoções desenfreadas e satisfazem todos os desejos por mais passageiros que sejam, e aquelas que vivem pelo racional, controlando e desconfiando das emoções.

Os "sábios" de hoje em dia enquadram-se neste último grupo. Estou farto de ouvir pessoas supostamente esclarecidas a dizer que as emoções são de desconfiar e que não oferecem um meio seguro para decidir a direcção das nossas acções. Eu sei que hoje em dia estamos num extremo em que o mundo inteiro parece ter resolvido dizer que não a qualquer tipo de auto-controlo, e não acho que isso seja positivo. Mas não deitem tudo no mesmo saco!

Em toda a história da Humanidade, quando se identifica um problema, aparece uma posição no pólo oposto, sem que isso esteja necessariamente correcto. Acho que é isso que se passa actualmente com a reacção dos "sábios" à vivência desenfreada das emoções.

Mas quero propôr uma distinção diferente: eu acredito que o mal não está em viver as nossas emoções a fundo. As emoções fazem parte de nós, e acredito mesmo que correspondem a um "eu" profundo que não deve ser reprimido, mas, muito pelo contrário, as emoções devem ser cultivadas como um meio privilegiado de relação com o mundo, que nos oferecem não só uma sensação de realização, mas também uma riqueza enorme de pistas sobre a direcção a seguir.

A mim parece-me que um homem completo não é aquele que controla as suas emoções em função de critérios exteriores, considerando-as contraditórias, mas sim aquele que encontra um caminho em que todas as suas emoções apontam na mesma direcção, sem contradições. Isto leva-nos ao novo nível de análise que eu proponho. Em vez de se considerar que existe uma polaridade oposta entre razão/emoção, parece-me muito mais acertado considerar a razão e as emoções como elementos complementares, ambos valiosos, da mesma unidade. A questão está, antes, noutro tipo de distinção: entre superficialidade/profundidade.

Quando há pessoas que satisfazem todos os desejos sem nenhum critério, ou pessoas que um dia seguem um caminho e noutro dia seguem outro caminho oposto, também sem nenhum critério, isso não se deve ao facto de estarem a seguir emoções supostamente enganadoras ou voláteis, mas de viverem a um nível superficial e não profundo. Cada um de nós é um ser, e cada ser tem vários níveis, uns mais superficiais e outros mais profundos. A razão e a emoção estão presentes em todos esses níveis, sendo que tanto a emoção como a razão, quando se vive a um nível mais superficial, são ambas voláteis e pouco representativas do nosso verdadeiro "eu".

Assim, a questão está em sabermos viver a um nível mais profundo do nosso "eu", integrando tudo aquilo que nós somos em todos os níveis. Se assim for, viveremos emoções fortíssimas e imediatas que são também correctíssimas e cheias de validade para funcionarem como um critério de decisão sábio.

Mas parem-me de dizer mal das emoções, sff! :p

3 de julho de 2007

Divagações

(banda sonora: Je crois entendre encore - Orchestra of the Royal Opera House)

Outro dia, a propósito de uma conversa com uma pessoa que adoro e que é muuuiitooo querida, descobri que desde pequeno fiz uma opção que me trouxe uma consequência negativa e outra positiva.

A opção, foi concentrar-me mais nos princípios que estão por detrás dos fenómenos, e menos em factos ou circunstâncias concretas.

A consequência negativa, foi transformar-me numa pessoa com pouca memória para factos e circunstâncias, o que é muito chato mesmo.

A consequência positiva foi poupar recursos internos para conseguir os mesmos objectivos, coisa que um dos meus maiores defeitos, a preguiça, muito apreciou.

Se pudesse ter as duas coisas - memória para factos e pensamento conceptual - isso seria excelente. Mas se tivesse que escolher outra vez entre uma ou outra, acho que voltava a escolher a mesma coisa.

Interessa-me muito mais saber que os rios têm sempre uma fonte e desembocam sempre no mar ou noutro rio, do que saber os nomes de todos os rios da Terra. Se algum dia for a outro planeta, com esse tipo de informação, mais leve e mais generalizável, chegarei mais longe do que com memórias factuais, mais extensas e menos generalizáveis, uma vez que nesse planeta as circunstâncias serão outras, mas os princípios os mesmos. Isto aplica-se a qualquer conteúdo, o que me parece muito cómodo...

A minha querida interlocutora não concordou que isso seja uma boa opção. E tu?

2 de julho de 2007

Pessoas



(banda sonora: Hallelluia - Jeff Buckley)

Quando era pequeno e ía pràs aulas de autocarro, estava sempre um senhor preto que saía uma paragem antes do meu colégio. De tanto me ver a mim e à minha irmã no autocarro, passou a oferecer-nos todos os dias um sorriso aberto, humilde e profundo como só os pretos sabem fazer. Acabámos por saber que ele trabalhava pra alguem que conhecia os meus pais. Tinha vindo com um soldado português no fim da guerra, e não sabia que idade tinha, nem quando fazia anos. Eu achava isso muito curioso, não saber que idade se tem :)

Era uma figura que transmitia imensa paz. Talvez fosse o sorriso, ou talvez a maneira especial como parecia estar no quotidiano. Não era como os passageiros que não sorriam. Formou-se uma certa cumplicidade entre nós, uma amizade silenciosa e passageira, que não queria nem precisava de crescer mais do que o passageiro que era. Uma presença simpática.

Sobre os africanos, descobri mais tarde que são mais intensos em tudo. Têm mais côr e mais ritmo. Quando são humildes são duma humildade que desarma, como o meu amigo. E por outro lado, quando são arrogantes são duma arrogância que choca. Descobri também que neste mundo não há só um mundo, mas vários, e que fomos nós, europeus, que fizemos as coisas assim. É inacreditável o tamanho da dívida que o chamado mundo ocidental tem para com África. Também não acredito que o mal seja por sermos europeus ou africanos, nem nada disso: o mau uso da liberdade é uma opção que foi dada à Humanidade, e se fosse ao contrário teria sido a mesma coisa, provavelmente. Mas calhou-nos a nós, e somos nós quem lhes devemos mais do que é possível a uma mente humana contabilizar.

Não voltei a ver o meu amigo silencioso, até o encontrar ontem, passada mais duma década, a servir na festa de um baptizado, com a mesma humildade e simpatia de sempre. Quando me viu deu-me o mesmo sorriso simpático de antigamente. Pensei que me tivesse reconhecido, mas quando lhe perguntei, deu-me um "ah, talvez..." muito diplomático. A única diferença era o cabelo completamente branco.

É engraçada a maneira como os caminhos se cruzam e recruzam :) Hoje, a escrever isto, estou a ouvir o "hallelluia" do Jeff Buckley. Outro dia lembrei-me que se lerem estes posts em ambientes diferentes do ambiente nocturno e sereno em que os escrevo, a sensação pode ser diferente. E depois começei a pensar que era giro que os livros, os cds, etc., viessem com uma indicação de como os tomar, como acontece com alguns vinhos. Pois bem, espero que tenham lido este post ao som de Jeff Buckley!

1 de julho de 2007

Teresa e Kiko

A vida devia ser como um casamento cigano: as pessoas deviam juntar-se em grandes grupos ao fim de todos os dias num grande espaço semi-aberto, decorado com tecidos bonitos e almofadas gigantes, vêr juntas o pôr-do-sol, conversar sobre o dia e sobre a vida, comer, beber e dançar. Quando o cansaço chegasse, dormir aconchegados no calor humano uns dos outros, até que a aventura recomeçasse no dia seguinte =)

Ou então os casamentos deviam ser todos como o da Teresa e do Kiko: alegria e seriedade, amigos simpáticos e descontraídos, num sítio muito bonito. Parabens amigos! Sejam felizes

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