26 de novembro de 2007


Há uns anos tive um sonho que me incomodou pelas sensações ameaçadoras e cruas que me deu. Estava eu num quarto numa casa antiga onde passava férias, e ouvi qualquer coisa ao fundo do corredor. Tive uma sensação fria de que estava ali alguma coisa, uma presença má que se podia sentir (isto tudo no sonho). Passei um quarto, outro, e quando vou a passar em frente à casa de banho, vejo um homem muito alto e muito forte, embora esqueléctico, meio gigante, dava quase pelo tecto, e estava nu, tinha uma expressão de angústia, atormentado, uns olhos cavados e arregalados que exprimiam desolação, agressividade e descontrolo: era um louco assassino, e estava a segurar no irmão mais novo dum amigo meu de pernas pró ar, já inconsciente, a batê-lo contra a parede e contra o chão, cheio de raiva, como se fosse um boneco. Congelei e fiquei como se estivesse perante uma fera, consciente do grande perigo que corria, um louco assassino grandalhão à solta em minha casa, que de repente se tinha transformado num cenário de guerra, um campo de batalha. Era uma situação de vida ou de morte. Ele viu-me, e com qualquer movimento meu podia-se lembrar de me vir tentar apanhar e fazer-me o mesmo.

Não me lembro do resto, provavelmente acordei quando ele me estava quase a apanhar, que é típico dos pesadelos. De qualquer maneira, hoje fui ao cinema ver o "Beowulf" (em 3D no Dolce Vita, muito giro), em que entra logo desde o princípio um monstro (chamado "Grendel") muito parecido com o louco do meu sonho!! Juro que durante uns minutos me senti incomodado, mexeu comigo. É esta criatura simpática aqui em cima... :/ (quem pode vir dormir comigo hoje? eheh)

25 de novembro de 2007


I´ve got myself...

24 de novembro de 2007

Estrutura de Natal

Chamam áquilo uma árvore de Natal? É um conjunto de metal e luzes coloridas, e até a forma é só vagamente parecida. Talvez a música sirva para estimular a imaginação que vai sendo precisa para ver ali uma árvore de Natal. Mas lá grande isso é, se é isso que queriam, conseguiram...
Noite avançada, silêncio debaixo da lua cheia de Novembro. Cheiro a lenha queimada sacode o frio do nariz. O cão percorre elegante a rua húmida, pára de orelhas em pé a fitar uma parede nua. O silêncio e a lua lembram-me: "se calhar os cães vêem fantasmas animais que a noite traz, e há um gato invisível a olhar ali para ele". Ou talvez seja o meu espírito solto pelo sono. Nada que uma cama quentinha não resolva já a seguir. Boa noite lua cheia de Novembro, gosto muito de ti.

21 de novembro de 2007



It was me in that room
But you couldn`t see me
Too many lights out, but nowhere near here

It was me in that room
Still you couldn`t see me
And then flashlights and explosions

Roads are getting nearer
We cover distance but not together
I am the storm and I am the wonder
And the flashlights, nigthmares
And sudden explosions

I don't know what more to ask for
I was given just one wish

It's about you and the sun
A morning run
The story of my maker
What I have and what I ache for

I`ve got a golden ear
And cut and I spear
What else is there?
Roads are getting nearer
We cover distance still not together

If I am the storm if I am the wonder
Will I have flashlights, nightmares, sudden explosions

There is no room where I can go and
You`ve got secrets too

I don`t know what more to ask for
I was given just one wish

(Royksopp - What Else Is There?)

15 de novembro de 2007

O que dizer da morte? É simplesmente grande demais para se poder comparar com qualquer outra coisa. Perante ela tudo fica relativo, tudo fica pequeno. É um monstro, um gigante. Que andamos nós a construír, que dum momento para o outro tudo desaparece sem deixar rasto? Que significado têm as nossas actividadezinhas todas, se os nossos dias são um grão de areia num oceano de infinito?

Por outro lado... parece-me que um dos segredos para diminuir o monstro está relacionado com a nossa pequenez. No fundo, a monstruosidade da morte vem do facto de nos tirar tudo, até o próprio corpo, a própria noção de ser. Mas só tem medo de perder coisas quem considera que as tem. Há quem se saiba pequeno, há quem saiba que não possui nada, e para quem cada dia é um acréscimo a esse nada, e não uma coisa a defender com todas as forças.

Mas então... será que o mais lógico é prescindir de tudo, não viver a vida, não nos entregarmos às coisas, porque existe a morte? Claro que não... acho que o mais lógico é viver tudo, a vida, as pessoas, os laços... mas sem nos apropriarmos de nada. Saborear, sugar ao máximo o tutano da vida, mas sabendo sempre que já fomos nada, e que voltaremos a ser nada; que não temos nada, e que por isso tudo é acréscimo. Nada é perda, tudo é ganho.

Mas voltando à pergunta: que significado têm as nossas actividadezinhas todas? A minha resposta é que têm significado na medida em que se aproximarem do elemento mais central da vida em si. Na medida em que estiverem ligadas à força primordial e essencial da vida, ao único elemento que pode ser transversal a tudo o que existe, a única coisa que poderia ser grande o suficiente para ter sido a primeira a existir, ou ainda, ter existido antes de tudo o resto, ou ainda, sempre ter existido.

As nossas actividadezinhas têm significado na medida em que estiverem perto do Amor. E quem sabe, o Amor não poderá até levar-nos para além da morte? Quem o conhece sabe bem que com ele tudo é possível.

Nada é perda, tudo é ganho.

11 de novembro de 2007

Stardust


Adorei ver este filme. Fora ser uma história linda em sítios mágicos, fez-me lembrar várias coisas que já sabia mas que muito facilmente se deixa para segundo plano: que o Amor é a coisa mais importante do mundo; que o nosso valor como pessoas é enorme e independente dos critérios mesquinhos e deturpados que nos são transmitidos por uma sociedade deteriorada; que a nossa verdadeira identidade é a de Estrelas Cadentes destinadas a brilhar eternamente; que a nossa verdadeira casa é feita duma Luz acolhedora e resplandecente; que é muito importante tratar-nos a nós e aos outros de acordo com a dignidade e o respeito que a nossa identidade e a nossa casa merecem. E sorrir, felizes, com esta Vida que recebemos.

www.stardustmovie.com

8 de novembro de 2007

Fitar os olhos dela dá cabo de mim. Perco-me dentro de olhos bonitos, fico hipnotizado, e já nem sei de que é que falamos. Às vezes o silêncio acorda-me: ficou à espera de resposta, e digo qualquer coisa. "Pois... é isso..." E volta a falar, e volto a perder-me nos olhos dela. E já não sei quem é: uma rapariga ou um espírito animal qualquer. As cores, a harmonia, a intensidade... são fascinantes. Que coisa Deus criou, as mulheres. Há qualquer coisa diferente dentro delas, e o mistério atrai. São bonitas, elas, os seus olhos, e tudo o resto. Falam dos seus assuntos como se fossem os mais importantes do mundo, duma maneira querida. Estão cheias de expectativas. São bonitas. Se nos apanham o coração não perdoam. Fazem de nós o que quiserem. São perigosas, elas e os seus olhos. Mas o perigo atrai. E são bonitas. E é isto.

Poderes...


Ontem pus-me a pensar no meu prédio e na relação entre os condóminos, que é bastante impessoal, e pus-me a imaginar como seria se cada condomínio fosse uma pequena aldeia, em que as pessoas tivessem relações afectivas e familiares e vivessem ligadas umas às outras... seria muito giro.

A propósito disso, percebi uma coisa que já achava há muito tempo mas que não sabia definir. Quem me conhece sabe que eu sou meio anárquico e que não quero cá ninguém a mandar em mim, seja presidente, rei, primeiro-não-sei-quê, ou lá o que fôr :) mas fora isso, acho que tanto a república como a monarquia têm vantagens e desvantagens. E sempre houve qualquer coisa na monarquia que me fascinou, e não só a mim, como a toda a gente. Os americanos, por exemplo, ficam fascinados com o rei de Espanha, e outras famílias reais. Donde é que nos vem esse fascínio pela monarquia? É por causa dos castelos, dos terrenos e do luxo em que eles vivem?

Acho que há duas coisas (e possivelmente mais, mas eu só identifiquei estas duas) que estão na base desse fascínio:

primeiro, há em todas as relações humanas uma busca de poder pela liberdade da nossa vontade, fazer basicamente o que nos apetece sem ter que dar satisfações a ninguém, seja como pessoas individuais, seja como famílias ou pequenos grupos. Essa busca tem que ser regulada, uma vez que é difícil que todos possam fazer tudo o que lhes apetece. Em todo o reino animal e também no reino humano, até aparecer a república, esse poder era regulado através de hierarquias baseadas em vários critérios, desde a força até à inteligência, mas com o ponto comum de que os membros que estão acima na hierarquia têm a possibilidade de não ter que dar satisfações aos outros sobre o que lhes apetece fazer, e de poder ter pequenos grupos familiares independentes. Assim, na monarquia, uns exercem essa liberdade, outros têm essa liberdade em diferentes medidas, outros sonham com essa liberdade, mas esse desejo é aceite, reconhecido e aprovado.

Esse tipo de liberdade da vontade é uma coisa que fascina as pessoas, e que desapareceu na república, uma vez que ninguém numa república está isento de dar satisfações aos outros, e há até uma mensagem subjacente de que é errado preferir a nossa vontade, ou a vontade dos que nos são próximos, à vontade de toda a comunidade, de toda a nação. Assim, há na república uma espécie de negação da natureza egocêntrica das relações de poder, natureza essa que não deixa de ser egocêntrica apesar dessa negação. A monarquia tem a vantagem de, ao reconhecer essa natureza humana, e ao dar-lhe uma ordem (seja o método escolhido para essa ordem perfeito ou não), permitir às pessoas reconhecerem e aceitarem a sua identidade como "buscadores de liberdade da vontade", e encontrar uma harmonia nessa busca colectiva, dentro da não-negação.

Mas na república, existe um pseudo-moralismo que diz às pessoas "a comunidade está acima dos interesses individuais", e as pessoas deixam de reconhecer e aceitar a sua natureza, a sua busca pela liberdade da vontade, que passa a ser reprovada colectivamente e inconscientemente. Daí que fiquem fascinadas por uma certa "integridade do Ego" que as pessoas na monarquia manifestam ao aceitarem a sua natureza de maneira tão aberta e descarada, e não só isso, mas também com estilo e civilização.

O segundo elemento que acho que está na base do fascínio pela monarquia parece-me ser mais importante que o primeiro e é o mesmo que falta nos condomínios dos prédios :) é o tipo de relações que há entre as pessoas, a existência de raízes sanguíneas, morais, culturais, geográficas e afectivas comuns. Numa monarquia, é possível toda a gente (incluíndo os que têm poder político) estabelecer uma relação familiar, moral, cultural e geográfica que se torna também afectiva, ou seja, as pessoas podem dizer: aquele e aquele são da minha terra, primos deste e daquele, têm os mesmos valores que eu, vivem da mesma maneira que eu, etc. E isto acontece numa formação em árvore que vai até ao rei, fazendo com que a nação seja como uma espécie de família grande.

As pessoas identificam-se não só com as opções políticas do(s) chefe(s) político(s) (o rei e os diferentes chefes locais) mas também com os seus gostos, hábitos, personalidade, etc., e o rei (assim como os chefes locais) torna-se não só um símbolo político, mas também um símbolo cultural e humano que as pessoas respeitam em cada uma dessas dimensões. Acho que a palavra é a unidade. Uma monarquia tem a capacidade de reunir toda a nação numa grande unidade não só em termos hierárquicos, mas também em termos culturais, morais, etc.

Mas na república, as relações familiares e afectivas, a cultura, as raízes e a proveniência geográfica não são incluídas nas relações políticas, o que leva a uma grande impessoalização da vida colectiva. A nação passa a ser como um grande condomínio, em que as relações de poder só existem para a gestão dos recursos comuns, resultando daí que a população não se sinta identificada com os organismos políticos em termos culturais, morais, afectivos, familiares, etc. Não estou a dizer que isso seja mau, porque também tem vantagens, acho eu. Mas parece-me que a unidade é uma grande vantagem da monarquia que a república não parece conseguir atingir da mesma maneira. Basta dizer que em países com diversidade étnica, como a Espanha, se não fosse a existência de uma monarquia, o país dividir-se-ía em várias nações, o que prova a capacidade unitária da monarquia.

Mas que não haja confusões: não sou monárquico nem repúblicano, sou ANÁRQUICO!! =)

2 de novembro de 2007

Isto ultimamente é só reflexões...

É engraçado como o desenvolvimento vem mesmo da acção. Sò quando me pus a pensar (se é que pensar se pode chamar acção...) sobre o tema que queria para a espécie de mestrado que vou fazer, é que percebi que muitas outras idéias estavam escondidas por baixo dessa idéia principal.

A idéia principal é a vivência do corpo e a sua relação com as emoções. Como disse nos últimos posts, acho muito importante a compreensão dos processos que se dão no aqui e agora à medida que as pessoas se relacionam entre si, e a procura duma experiência global e intensa na relação com os outros e com o mundo. Assim, queria fazer qualquer coisa sobre a vivência do corpo em relação com as emoções, como uma maneira de promover essa experiência global, directa e imediata.

Ao tentar aprofundar esta questão, percebi que: exprimirmo-nos emocionalmente e termos consciência dos nossos sentimentos são duas coisas muito ligadas. O não exprimir emoções leva à falta de consciência do que é que estamos a sentir, e vice-versa.

Da mesma maneira, a expressão corporal das emoções é uma forma de expressão emocional importantíssima, e o limite entre o físico e o psicológico é muito mais difuso do que costumamos pensar. Realmente, somos um ser que a cada momento tem todas essas dimensões numa relação muito próxima: pensamentos, emoções e sensações corporais são um contínuo muito mais indivisível do que pensamos.

Ao mesmo tempo, tudo isto parece estar ligado à nossa animalidade. As nossas emoções foram formadas através da associação de reflexos fornecidos pela experiência da espécie, ligados à sobrevivência. Por isso, emoções, impulsos fisiológicos de alerta, acção, ritmo cardio-vascular, etc., estão muito ligados entre si, e como estou sempre a redescobrir, o humano e o animal estão também num contínuo indivisível.

Moral da história: quanto mais formos capazes de vivermos integrando todas estas dimensões, que no fundo são inseparáveis, mais profunda e verdadeira vai ser a nossa experiência da vida, e mais aliviados nos iremos sentir. Que aquilo que vai dentro de nós não fique guardado no baú da nossa memória, mas tenha sempre uma expressão exterior e física, corporal, e que esteja dirigido a alguém, no quadro duma relação interpessoal. Acho que isto é importantíssimo na compreensão da nossa saúde psicológica, afectiva, e até mesmo física e espiritual. A vida é relação, relação é acção, e acção é uma experiência que só existe no presente e é global: mental, afectiva, física e espiritual.

Ah, o espiritual. Aqui entra mais uma falsa divisão que costumamos fazer: o psicológico e o espiritual , que também estão num contínuo indivisível. Realmente, vivermos ao nível da expressão emocional corporal permanentemente traz alívio e saúde psicológica. Mas trará felicidade? Parece-me que só isso não chega. O próprio conteúdo daquilo que vivemos, e não só a maneira como o vivemos, é determinante. Assim, o próprio tipo de emoções que sentimos e exprimimos nas nossas relações com os outros também é relevante. Podemos saber exteriorizar bem as emoções que resultam das nossas relações e isso trazer-nos alívio, mas nem todos os tipos de relações e consequentes emoções nos fazem bem. Há um tipo de relações que traz mais felicidade e mais saúde mental, afectiva, física e espiritual do que outras: as relações de amor.