31 de janeiro de 2008

Beleza, bem, mal, trigo e joio


O meu médico não me deixa ficar muito tempo sem pensar em coisas boas. Por isso, aqui vai: o que é a beleza?

As coisas falam, acho que já tinha dito isso aqui. A linguagem das cores, das formas, das linhas, dos movimentos, etc., têm conteúdos, mensagens, que dizem coisas. Eu acho que a beleza é simplesmente a linguagem das coisas a falar de amor. E nós, como falamos inatamente essa linguagem, entendemos essa mensagem, mas chamamos-lhe beleza porque a nossa cabeça não atinge aquilo que estamos a "ler" com o coração.

Se olharmos para uma cara bonita, o que vemos? A harmonia das proporções, a suavidade da pele, os diferentes elementos parece que brincam uns com os outros cheios de alegria e de vida. O que é isso tudo senão, numa palavra, amor?

Por outro lado, o feio, o que é? No mesmo raciocínio, é a linguagem das coisas a falar-nos de falta de amor. Uma pessoa sem amor, e odiada, torna-se feia, não só porque não tem nem recebe cuidado, mas porque as suas expressões, feições, posturas, etc., começam a transmitir "desilusão", "tristeza", "desarmonia", etc.: falta de amor.

Acho que, para nós, há também outro elemento que entra nesses conteúdos comunicativos da beleza, para além do amor: é aquele que vem da natureza animal. Esses conteúdos podem dizer por exemplo: "força", "poder", "capacidade de sobrevivência", "agilidade", "auto-suficiência", e, ao longo dos tempos, esses significados foram sendo lidos por nós como beleza, por serem atributos desejáveis para um animal. Um exemplo disso é a beleza que vemos numa pantera ou num cavalo. Lemos esses traços como sendo beleza, porque, ao longo dos milénios e da formação das espécies, se "misturaram" com os conteúdos que originalmente falavam só de amor, e não de sobrevivência ou auto-suficiência.

Pois é. Eu acredito que, neste mundo, o amor puro está misturado de tal maneira com a falta de amor, que em alguns casos é quase impossível separar uma coisa da outra. A falta de amor serve-se muitas vezes da imagem do amor para transmitir beleza. É o caso, por exemplo, daquela beleza que vemos num avião-caça do exército: uma máquina que serve para matar, que serve para a guerra, no entanto, há qualquer coisa nas suas linhas, na sua harmonia, que é bela. Se a beleza vem do amor e a guerra vem da falta de amor, como pode isto acontecer? É o caso também da beleza duma mulher caprichosa e egoísta. Uma mulher que não é capaz de amar, que faz mal aos homens e tira prazer disso, mas que é muito bonita e atraente. Não será isso porque o amor e a falta de amor estão misturados nela, e porque a falta de amor, às vezes, se serve do amor para atraír e para sobreviver?

Da mesma maneira, muitas vezes achamos bonitas coisas que não são boas. Se, como eu acredito, a beleza, a vida, a felicidade, vêm do amor, e o feio, a morte, o sofrimento, vêm da falta de amor, como é que isto é possível?

Acho que a explicação é essa: a situação do Homem e da Natureza, nesta vida, é a da "mistura". É o que na Bíblia está muito bem ilustrado com a metáfora do trigo e do jôio. Estão misturados, e Deus deixa-os crescer juntos, para que não se corte o trigo juntamente com o jôio. Na altura da ceifa é que se voltam a separar. A ceifa é o momento da morte. Em nós, o bem e o mal, a beleza e o feio, a vida e a morte, o amor e a falta de amor, estão misturados, e essa mistura só poderá ser desmisturada numa vida futura, no Paraíso. Nessa altura, veremos claramente que o amor é a fonte de toda a beleza, e nessa altura, tudo o que é falta de amor será também horrivelmente feio. Será assim porque veremos a Verdade, e já não veremos as coisas misturadas. Ou nesta vida, se se atingir a santidade, que para mim não é mais do que ter desmisturado o trigo e o jôio em nós.

Esta mistura que acontece em termos de beleza, acontece também dentro de nós a vários níveis. Já que estamos na onda da religião, acontece muito quando tentamos tornarmo-nos "bons". Porque dentro de nós o bom e o mau também está muito misturado, e quando tentamos mudar as coisas dentro de nós para que fique tudo bom, acabamos por rejeitar coisas boas que estavam ligadas às más, e acabamos por promover coisas más que estão ligadas às boas.

Pois é, isto é um caso bicudo... Então como é possível a alguém que queira separar o trigo do jôio nesta vida, fazê-lo? Como pode alguém tornar-se bom, se neste mundo, e dentro de nós, o mau e o bom estão tão "interpenetrados"?

A minha resposta é: não pode. Só Deus pode fazê-lo em nós. O que nós podemos fazer é ter a humildade de aceitar que em nós as duas coisas estão misturadas, e ir tentando encontrar o melhor equilíbrio possível. É um caminho. E podemos, sobretudo, não tentar agir "como se fôssemos bons", ou seja, não tentar agir segundo um modelo exterior, ao qual tentamos corresponder. A bondade, assim como todas as coisas boas, só são autênticas se partirem de dentro de nós, se forem fruto duma descoberta pela prática. Se estão fora, não vale a pena fingir, isso só leva à falsidade, e a queimar o trigo (bem) juntamente com o jôio (mal). Só podemos ir descobrindo o que é ser-se bom experimentando e errando, aceitando o erro e tentando outra vez, de maneira a que a mistura que temos por dentro se vá desmisturando aos bocadinhos. Sem perfeccionismos, sem orgulhos, sem auto-condenações, e sem condenar os outros.

Mas isso é outra conversa, e este post já ficou comprido demais!!

30 de janeiro de 2008

"Olhos" e "eus"

Às vezes sinto-me como se estivesse numa sala cheia de gente, e eu fosse o único com os olhos abertos, e todos tivessem os olhos vendados. Não porque ache que veja mais do que os outros. Cada pessoa provávelmente sente o mesmo, talvez com a diferença de que alguns encontrem mais gente na sala com os olhos abertos.

É uma questão de comunicação: a sala é a vida, e os olhos são os nossos verdadeiros "eus". É difícil conseguirmos comunicar com os nossos verdadeiros "eus", fazer com que os outros vejam aquilo que sentimos verdadeiramente perante as coisas, compreendam, e estabeleçam connosco uma "área" de partilha de sentimentos e de perspectivas suficientemente grande para que vejamos os "olhos" uns dos outros, na sala.

Claro que vou vendo os olhos de algumas pessoas, na sala. Mas às vezes parece que estão todos com os olhos vendados. Alguém sente o mesmo? Se sim, ficamos mais perto de nos olharmos nos "olhos".

22 de janeiro de 2008



Espectáculo...

21 de janeiro de 2008

Atonement

Gosto de filmes em que o par principal, no meio de toda a trama de acontecimentos e confusões típicos das tragédias gregas, mantem-se sempre fiel e confiante um no outro, com um amor seguro e resistente às intempéries. Hoje vi um assim: "Expiação". Uma história que mostra, sem grandes interpretações ou juízos de valor, a verdade dos sentimentos crus que passam pelas almas humanas, e também das reviravoltas que as vidas dão à mercê de acontecimentos que não se controlam.

Nós, homens e mulheres, somos seres desejantes. Aquilo que mais nos caracteriza é desejar. Desejamo-nos uns aos outros, desejamos coisas, desejamos, ponto final. Na "sopa" de desejos em constante ebulição que faz parte dos grupos humanos, os seus destinos são muito variáveis. Uns encontram o que desejam, outros encontram desejos diferentes quando procuravam o primeiro, outros desejam sem nunca serem saciados, outros não chegam a perceber o que desejam.

Pode-se dizer muita coisa sobre isso: que é injusto ou que é justo, que é bonito ou que é feio, que é redutor ou que é humano. A mim parece-me, acima de tudo, que é uma sorte. É uma sorte ser livre para sentir um desejo, e é uma sorte ser-me dada uma oportunidade para o satisfazer, ainda que as condições possam ser adversas.

Consegui-lo é o auge; não o conseguir é uma lição de desportivismo; e tentar tem o seu encanto.

(Aqui)

17 de janeiro de 2008

Só dizer que estou aqui.

Se calhar não me viste, ías muito atarefada. Eu espero. É giro ver-te no meio das pessoas, como quem tem um mundo de pequenos compromissos que precisam de ser cumpridos. Se pudesse, fazia-tos por ti.

Mas não são meus, são teus, e também não acredito em compromissos. Só tenho estes: seguir a minha vontade e procurar a vontade de Deus. Como não sei a dele, tento a minha.

Por isso estou aqui, a admirar o teu stress. És querida, tu e a tua vida. "Queres deixar isso tudo e vir apanhar sol?" Pergunto na minha mente e prevejo o teu escândalo. Já sei, tens coisas bem mais importantes para fazer.

Como se o sol não tivesse sido criado só para brincar com a tua pele. Como se houvesse coisa mais importante que curtir a vida ao pé de alguém que gosta de ti. Se pudesses arriscar e largar as tuas tarefas... Se me deixasses, por um minuto, mostrar-te o que vejo, fazias-me feliz, e quem sabe se a ti também.

Mas se não me vês a mim, como podes ver o que vejo?

16 de janeiro de 2008

Há dois tipos de pessoas no mundo: aquelas que acreditam que há dois tipos de pessoas no mundo, e aquelas que não acreditam nisso.

(Schoppenhauer)

11 de janeiro de 2008

A vida é como o windows: todos têm, mas poucos sabem explorar todas as suas potencialidades.

9 de janeiro de 2008

Amor é religião...

... e religião é amor. Se não acreditam, leiam:

"Deus é amor: quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele."

"No amor não há temor; o amor que é perfeito expulsa o temor, porque o temor supõe um castigo. Quem teme não é perfeito no amor."

(Bíblia - Primeira Epístola de São João)

De tudo o que existe, que outra coisa poderia ser a mais importante de todas?
Que outra coisa poderia ser Deus, senão amor?

De todas as frases que ouvi na minha vida, muito poucas são tão importantes como estas.
São João está lá, e eu estou com São João :)

1 de janeiro de 2008