31 de maio de 2008

25 de maio de 2008

24 de maio de 2008

Ser ou não ser

Não sei se já escrevi isto, mas às vezes sinto que sou tão anárquico que podia desfazer-me e diluír-me no ar. Até as estruturas e as leis do meu próprio corpo me parecem absurdas.
Acho que o meu ego vive desintegrado. Vejo passar partes de mim mesmo à frente dos meus olhos, e não consigo perceber donde vêm nem o que são. Mas é bom vê-las, e posso reclinar-me cómodamente no meu sofá e assistir à passagem de mim mesmo por mim. Acho que a culpa é do sistema.
Não sei onde nem quando perdi aquilo que não sei o que é nem se perdi. Acho que algum dia decidi que tinha tanta razão que nem sequer tinha que explicar. E agora não sei se isso aconteceu, nem quando foi, nem em que é que tinha razão. Devia ter sido como todos e promovido a minha pessoa, mas isso seria ter sido como todos. Na selva, se não se tá por cima fica-se por baixo.
Sei que o mundo não se trata de mim, e não gosto de falar assim. Quanto mais aprendo mais sinto que não sei nada. Só os vagabundos são a esperança. Aos outros parecem loucos, e é essa a beleza: nem eles sabem de que é que estão fora, mas o importante é que estão. Os que sentem que não cabem nas coisas, esses é que sabem, todos os outros não.
Porque é que quando não consigo o que quero me sinto mais perto de mim? É esse o paradoxo: o exílio é a minha morada. Obedecer é morrer, negociar é não ser. Viva os loucos, os rejeitados, os rebeldes e os drogados. Salvam-me a vida.

Enfim... não se preocupem. Amanhã pego na cartola e na bengala, e podemos continuar a brincar.

20 de maio de 2008

Amigo










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Amigo... Deixar-te naquela noite, só Deus sabe como foi. Feliz e inocente, e de repente, um muro. A tua surpresa, a tua cara e o teu coração, partem o meu só de pensar. Um muro, amigo... era só um muro entre nós! Mas sabes, não era só um muro, era toda a "civilização". Nasceste no sítio errado à hora errada. Ninguém te avisou? Não há espaço. Foi mau o timing, amigo. Há dias assim... Há vidas assim.

Porque sorrias? Só complicas tudo. A hora não era de alegria... Pobre inocente, o teu erro foi que erraste. Não se pode, amigo. Passaste para o "outro lado": sem sonhos, sem nome, sem amor. És um número, uma letra. És nada.

Mas que raio te dizem os sonhos? Porque saltavas e sorrias, amigo? Não há tempo para brincadeiras. A gasolina está cara, e o metro quadrado também. Não vês?? Há coisas mais importantes... A tua vida é um grão de pó levado pelo vento. Nem olhes para as caras que vês passar na rua. Não te vão ajudar... Não vês que são frias? Não se pode confiar nos sem-pêlo.

Amigo, Deus quis que tivesses outra oportunidade. Fico contente por ti. Mas sabes, dói-me o teu coração partido, e não te ver mais, parte o meu. Desculpa, mas posso ficar só meio contente?

Que Deus te leve a um bom lugar... Que Deus cure esse pequeno coração.
És meu amigo, e nunca te esquecerei.

15 de maio de 2008

Viver é gostar, é rir e é chorar...

...e para quê complicar mais? Viver é intenso mas simples.

2 de maio de 2008

O grito


Há um pássaro, deve ser uma coruja, no bairro grande de casas ao lado do meu prédio que vai do Campo Alegre até à Boavista, que solta um grito à noite. Uma nota só, meio aguda, forte, intermitente, lenta e misteriosa: "pii... pii... pii...". O som percorre todo o bairro, sem se perceber exactamente de onde vem, irrompendo sobriedade enquanto tudo repousa passivamente.

Parece uma espécie de espírito, uma voz no meio da noite que alerta para alguma coisa, ou para o facto de estarmos vivos. Provavelmente desperta quem a ouve sem intenção nenhuma de o fazer, mas só por ser o que é: energia vital. Limita-se a fazer o mesmo que os seus antepassados têm feito desde que este bairro e toda a cidade eram natureza selvagem cheia de mato e árvores.

Entretanto, nós humanos fomos mudando e perdendo um certo grito interior que vinha do mais profundo de nós, das nossas raízes ancestrais primas de todos os outros seres vivos. Mas graças a Deus houve um desses nossos primos que sobreviveu o suficiente para me vir acordar no meu bairro, na minha vidinha e no meu sedentarismo. E que me acorda, acorda mesmo.

Não sei se é a energia vital em mim que pega nesse grito e lhe dá esse sentido, ou se é esse grito que me faz entrar em contacto com a energia vital. Mas também não interessa. Oiço-o, gosto, e sinto uma força em mim a levantar-se. Acho que é um grito mais interior do que exterior, e não quero que se cale nunca.