15 de novembro de 2007

O que dizer da morte? É simplesmente grande demais para se poder comparar com qualquer outra coisa. Perante ela tudo fica relativo, tudo fica pequeno. É um monstro, um gigante. Que andamos nós a construír, que dum momento para o outro tudo desaparece sem deixar rasto? Que significado têm as nossas actividadezinhas todas, se os nossos dias são um grão de areia num oceano de infinito?

Por outro lado... parece-me que um dos segredos para diminuir o monstro está relacionado com a nossa pequenez. No fundo, a monstruosidade da morte vem do facto de nos tirar tudo, até o próprio corpo, a própria noção de ser. Mas só tem medo de perder coisas quem considera que as tem. Há quem se saiba pequeno, há quem saiba que não possui nada, e para quem cada dia é um acréscimo a esse nada, e não uma coisa a defender com todas as forças.

Mas então... será que o mais lógico é prescindir de tudo, não viver a vida, não nos entregarmos às coisas, porque existe a morte? Claro que não... acho que o mais lógico é viver tudo, a vida, as pessoas, os laços... mas sem nos apropriarmos de nada. Saborear, sugar ao máximo o tutano da vida, mas sabendo sempre que já fomos nada, e que voltaremos a ser nada; que não temos nada, e que por isso tudo é acréscimo. Nada é perda, tudo é ganho.

Mas voltando à pergunta: que significado têm as nossas actividadezinhas todas? A minha resposta é que têm significado na medida em que se aproximarem do elemento mais central da vida em si. Na medida em que estiverem ligadas à força primordial e essencial da vida, ao único elemento que pode ser transversal a tudo o que existe, a única coisa que poderia ser grande o suficiente para ter sido a primeira a existir, ou ainda, ter existido antes de tudo o resto, ou ainda, sempre ter existido.

As nossas actividadezinhas têm significado na medida em que estiverem perto do Amor. E quem sabe, o Amor não poderá até levar-nos para além da morte? Quem o conhece sabe bem que com ele tudo é possível.

Nada é perda, tudo é ganho.

10 comentários:

eyeshut disse...

______________________*

n disse...

Ah pujé!!!

tmg disse...

A propósito...
"Não sei o que pensar da morte. Parece-me estranha - mas, no fundo, não mais do que o amor ou o céu nos olhos dos recém-nascidos" (Christian Bobin in Ressuscistar)
Simples, não? :)

- disse...

simples, curioso e bonito :)

Irina Gama disse...

E aqui entraria o grande Charlie Chaplim a dizer que o sentido da vida deveria ser exactamente o contrário daquilo que é! ... mas a realidade é que é assim que as coisas acontecem... vivemos dia após dia caminhando para a morte... aqueles que se julgam grandes um dia verão a realidade e saberão que ao fim ao cabo nada são...

o meu segredo, e creio que de muita gente, é acreditar piamente na vida eterna... saber com toda a certeza que nada acaba na morte mas sim que tudo nela começa...

claro que nao vivemos à toa, e tudo aquilo que conquistamos na nossa caminhada aqui, durante anos, será reflexo naquilo que viveremos depois!

Não sei se faz sentido aquilo que digo... para mim faz sentido... a morte talvez seja o momento mais justo, bonito, importante e equilibrado de toda a nossa vida... levando para lá tudo o que conquistamos cá!

e ... nada é perda... tudo é ganho!

beijos!

- disse...

amen, sister! gostei :)

mas essa ideia de q o q fazemos aqui se reflecte dps, apesar de ter lógica, faz-me alguma confusão, no sentido de q parece q podemos ficar eternamente prejudicados por atitudes q tivemos agora por ignorância ou pelo acaso de n termos compreendido o sentido das coisas.

quem sabe cm será? eu acredito q os trabalhadores da vinha receberão o mm salário apesar de uns terem trabalhado mais do q outros :) acho q justiça, para Deus, é igual a misericórdia.

bjs e obrigado!

Irina Gama disse...

Hum... nao tinha pensado nessa tua primeira parte... pois é! ... :)

um dia saberei!

beijo!

patinho feio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
patinho feio disse...

Gostei muito do "nada é perda, tudo é ganho" que acho que é a ideia a reter!:) Quando a minha avó já era velhinha (e isso foi grande parte da minha vida com ela) dizia muitas vezes nos momentos especiais "Graças a Deus por ter vivido para ver este dia", que acho que acaba por ser o mesmo, na essência.
Quanto ao "tudo desaparece sem deixar rasto" no momento da nossa morte discordo, COMPLETAMENTE! Acho que a ideia de imortalidade começa exactamente por tu não desapareceres quando morres porque vais vivendo através do que foste para os outros! Todos nós somos "outras pessoas" (entenda-se, "pessoas que são importantes para nos tornarmos aquilo que somos, bom e mau") e continuamos a ser mesmo depois dessas pessoas morrerem. Há muitas coisas que faço, que não faço, que acho, que penso... que são o que a minha avó foi para mim em mim, naquilo que sou! Acho que com as nossas acções se passa o mesmo: prolongam-se para além do tempo e local em que realmente decorrem, porque deixam marcas noutros que as levam consigo para onde forem...

- disse...

Concordo contigo, acho q tens razão, é bem visto. E que pessoa fantástica que a tua avó devia ser! :)