28 de agosto de 2007

Homenagem aos cães


Acho que já disse aqui e volto a dizer: nós somos animais. Irrita-me imenso a fronteira que a Humanidade resolveu convencer-se que existe entre si e os animais. Na minha opinião não há uma fronteira, mas sim alguma distância. E mesmo essa distância limita-se a alguns domínios, porque noutros quem está à frente é a Natureza.

De qualquer maneira: o animal que me espanta mais é o meu cão, por várias razões: por exemplo, ele conhece-me melhor em algumas situações do que eu próprio. Esta até talvez seja porque tem consequências para ele, mas é incrível como ele não se aproxima de mim quando eu estou capaz de lhe dar uma sapatada. Quando faz uma asneira, juro que ele sabe muito melhor do que eu quando é que fico só irritado, ou irritado ao ponto de lhe bater. E avalia isso tão bem, que realmente raramente lhe bato, porque quando se deixa apanhar é porque já não estou capaz de lhe bater. Enfim, pormenores como este são às dezenas, quando se vive com um cão.

Ouvi dizer que a afectividade de um cão tem a mesma complexidade da de um bébé de 2 anos, o que é imenso. Ao estudar psicologia e ao observar o meu cão, estou convencido de que há alguns pontos em comum, por mais pequenos que sejam, na psicologia humana e na psicologia canina. O meu cão tem necessidades afectivas: ele tem saudades, ele amua, ele exige afecto, ele tem depressões, etc. Ele absorve e é afectado pelo clima emocional da casa.

Eu sei que um cão não é uma pessoa, mas também sei que não é "nada". É um ser que está connosco nesta aventura de descoberta que é a Vida, embora talvez num estádio mais primitivo. E, embora menos racional que o Homem, é sem dúvida um animal relacional, com o qual se podem estabelecer relações afectivas que têm muitos pontos em comum com as relações humanas. A distância que nos separa é tão grande quanto a distância que existe entre duas espécies animais, mas entre estas duas espécies construíu-se uma ponte muito curiosa. Depois de milhares de anos de relação, nós humanos já estamos previstos nos genes dos cães com uma função importante, e acho que vice-versa também.

Para acabar, um facto que enaltece a nobreza do cão: é o único animal doméstico que, ao longo da evolução, se aproximou do Homem não em termos de caçador-caçado, mas por uma associação natural entre dois seres que partilhavam as mesmas presas e os mesmos terrenos de caça. Pouco a pouco o cão foi-se aproximando dos nómadas primitivos, eventualmente desenvolvendo uma função importante na caça, e recebendo no fim o seu quinhão. Eventualmente, na noite dos tempos, o cão aqueceu o Homem e o Homem passou-lhe a mão na cabeça, tornando-se os melhores amigos.

6 comentários:

Anónimo disse...

At� Angola segue atenta (e sempre que pode) o teu blog!!! Para al�m de ser a estreia absoluta em comments a blogs!!

Viva o Lopes e o seu dono!

Grande abra�o do continente africano!

P.

- disse...

Eheee!! Espectáculo! O blog tá a ficar internacional :)

Tás bom?? Espero que esteja tudo a correr bem, e acima de tudo, que isso esteja a plantar muitos grãos (de mostarda;)

grande abraço!

n disse...

e como é que se passou com as mulheres? eheh

- disse...

Com as mulheres a relação foi de caçador-caçada ;) foi uma aquisição difícil, e até hoje o homem não sabe o que se passa na cabeça dela.

eyeshut disse...

os cães são lindos, doces, meigos, generosos, refilam, amuam, choram, riem alto, dão beijinhos, abraços e amam-nos sempre.
cá para mim, acho que eles andam cá para nos ensinar a ser mais verdadeiros...*

- disse...

welcome back, eyes

lindo, linda, doce... obrigado! :D

qto aos cães, acho q tens toda a razão.

bjs