3 de julho de 2007

Divagações

(banda sonora: Je crois entendre encore - Orchestra of the Royal Opera House)

Outro dia, a propósito de uma conversa com uma pessoa que adoro e que é muuuiitooo querida, descobri que desde pequeno fiz uma opção que me trouxe uma consequência negativa e outra positiva.

A opção, foi concentrar-me mais nos princípios que estão por detrás dos fenómenos, e menos em factos ou circunstâncias concretas.

A consequência negativa, foi transformar-me numa pessoa com pouca memória para factos e circunstâncias, o que é muito chato mesmo.

A consequência positiva foi poupar recursos internos para conseguir os mesmos objectivos, coisa que um dos meus maiores defeitos, a preguiça, muito apreciou.

Se pudesse ter as duas coisas - memória para factos e pensamento conceptual - isso seria excelente. Mas se tivesse que escolher outra vez entre uma ou outra, acho que voltava a escolher a mesma coisa.

Interessa-me muito mais saber que os rios têm sempre uma fonte e desembocam sempre no mar ou noutro rio, do que saber os nomes de todos os rios da Terra. Se algum dia for a outro planeta, com esse tipo de informação, mais leve e mais generalizável, chegarei mais longe do que com memórias factuais, mais extensas e menos generalizáveis, uma vez que nesse planeta as circunstâncias serão outras, mas os princípios os mesmos. Isto aplica-se a qualquer conteúdo, o que me parece muito cómodo...

A minha querida interlocutora não concordou que isso seja uma boa opção. E tu?

6 comentários:

n disse...

Eu fico, então, à espera que vás a outro planeta e me digas como correu a experiência. Ahh e na descrição dos rios do planeta, se calhar ajudava se me dissesses com que rios da terra se parecem. Para ficar com uma ideia aproximada, uma vez que conhecer de facto, só mesmo indo lá eu.

- disse...

lol :p

Inês disse...

a minha memória não é lá uma grande amiga... digamos que nos damos relativamente bem, mas ela esquece-se com frequência que eu existo e deve ficar mas é a rir-se enquanto eu tento encontrá-la...:) mas já percebi que não vale de muito ir atrás dela, até acho que, cada vez mais, o que ela me diz, subrepticiamente é: "vê lá se me esqueces!" e acho que sim, que ela tem razão, que ela só é precisa quando está lá e que é muito melhor mergulhar no rio ou no mar e sentir a água e nadar, porque isso ficará guardado em mim, não sei onde, nem tento saber... prefiro as memórias do coração às do cérebro! :)

- disse...

:) eu também!

Anónimo disse...

Somos a nossa memória. A nossa personalidade constroi-se ao longo dos dias, através do que ouvimos e aprendemos, e do que decidimos ouvir e aprender...das nossas interacções, acções, decisões e erros. Memórias conscientes e inconscientes, emocionais e motoras...entrelaçadas e constantemente re-vividas, são um tecido vivo que nos constroi.
Aqui fazes então uma distinção entre a memória mais geral e prática, instrumento para vida, e a memoria minuciosa, que desvalorizas.
É verdade uma coisa:é inegavel a importancia da emoção para a construção de memória, seja ela qual for. Também não conseguimos, como os computadores, armazenar objectivamente dados. Mesmo a memória factual passa pelo filtro da nossa subjectividade, forma de ser sujeito. É selectiva. Ao contrario do que se possa pensar, é perfeito: recordar a morte de um filho, por exemplo, seria uma experiencia paralisante se o lembrássemos sempre da mesma forma vívida com que o experimentamos realmente. Assim, há espaço para ver os acontecimentos da nossa vida sempre com outra luz...para crescer!
Sim, para o ser humano existem coisas naturais e fáceis de memorizar: as memórias associadas à emoção são as mais poderosas do nosso cérebro, e talvez as que mais influem no nosso carácter. É engraçado: todos sabemos o que estavamos a fazer no 11 de setembro 2001, quando soubemos da queda das torres. Jesus Cristo conhecia perfeitamente o poder deste tipo de memória, e utilizou imagens desconcertantes para gravar as mensagens mais relevantes da Sua missão: ao lavar os pés aos discipulos imprimiu-lhes para a vida o mandamento novo - servir e amar cada pessoa, tal como Ele. Outra prova é a de que retemos e aprendemos melhor as conversas, imagens e matérias que nos apaixonam (mesmo as factuais e minuciosas).
Mas estou-me a desviar(eheh): concordo plenamente que é central a capacidade de aplicar a experiencia vivida a outras circunstancias, permitindo-nos agir/reagir/escolher melhor... Crescer!
Sim, essa memoria de que falas é estrutural, guiando-nos na vida e na resolução de novos problemas.
No entanto, também reconheço a importancia de estudar e saber os pormenores, por exemplo, da minha profissão, para que possa ser útil e competente ao pormenor, apesar de requerer talvez mais esforço e empenho. É preciso deixar para trás alguma preguiça, não só fisica mas também mental, para servir bem quem nos procura. Vejo como uma caracteristica positiva tentar maximizar essa memoria, sendo que para isso não é preciso sacrificar a outra, talvez até a complete e alimente!
Assim, parece-me que tens pouca memória factual, não porque valorizaste a primira, mas porque desvalorizaste a segunda. E também porque és um pouco cabeça no ar...o que não deixa de ser encantador.

- disse...

lol :) obrigado, também te acho encantadora