20 de outubro de 2007

Ainda sobre o musical

Outra coisa que o Jesus Cristo Superstar me fez pensar foi o seguinte: neste musical, assim como em todas as obras cristãs que relatam a vida de Jesus, a Paixão e Morte de Jesus ocupam um grande destaque. Passa-se muito tempo a focar essas imagens desagradáveis. No musical dei por mim a querer que aquilo passasse rápido, e percebi que queria isso, por um lado, porque esse sofrimento me repugna e não me apetece pensar nele, e, por outro lado, porque ainda não o compreendo totalmente, e assim, para mim, fica só a parte má visível - as chicotadas, o sangue, etc. - e não o sentido que está por trás disso.

E isto leva-nos a um aspecto importantíssimo sobre a vivência da fé cristã e da sua transmissão: é que não adianta para nada enfatizar esse género de coisas a quem não as percebe. Isso é como dizer a alguém que, se um dia se juntar a uma mulher, vai ter que se esforçar por lhe agradar, levar-lhe o pequeno-almoço à cama, tratá-la bem, etc. Isto visto assim parece uma espécie de escravatura, e é pouco provável que atraia alguem, porque falta aí o sentido que está por trás. Esse sentido é o amor enorme que iremos ter por essa pessoa e que irá fazer com que todas essas tarefas nos dêem um grande prazer.

Da mesma maneira, mostrar o sofrimento de Jesus na cruz, ou dizer que temos que ser assim ou assado, ou que temos que largar coisas pelos outros, etc., etc., é completamente descabido, se antes a pessoa não tiver atingido o sentido que está por trás disso: conhecer e amar Jesus Cristo e a sua mensagem. Por outro lado, quando a pessoa tiver esse amor, não será preciso dizer-lhe que deve sofrer por causa da cruz, nem que deve ser assim ou assado, nem que deve largar coisas pelos outros, porque a própria pessoa irá sentir e fazer isso tudo em consequência do amor que terá a Jesus e à sua mensagem.

Assim, isto significa o seguinte: a única maneira certa de transmitir a mensagem de Jesus a alguém, é mostrar a essa pessoa quem ele é, o que disse, e explicar de que maneira influenciou a nossa própria vida. O resto virá naturalmente, e se não vier, de qualquer maneira não deve ser esse o objectivo. Tudo o que ultrapasse isto, está a mais.

Tenho a certeza que, se este pequeno princípio fosse aplicado em toda a Igreja, a sua maneira de estar, a sua filosofia, as suas actividades, etc., tudo mudaria radicalmente, porque hoje em dia não é ainda essa a lógica pela qual a Igreja se move. Enquanto a Igreja não se mover pela lógica certa, estará a afastar as pessoas de Deus e não a aproximá-las, o que é grave.

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