31 de março de 2008

Páscoa

Páscoa... Passagem, mudança. Parece que perdi o pio aqui no blog! Andam coisas dentro de mim dum lado pró outro. A mudança prepara-se no silêncio. E quando sai, mexe.

O equinócio, a lua cheia, as pessoas, o trabalho. Tudo tem mexido.

A última foi esta: não sabia, mas soube há pouco tempo, que um grande autor de psicologia, Michael Mahoney, cujas teorias admiro imenso, se tinha suicidado em 2006. Todos os testemunhos que se ouvem dele, e os seus próprios livros, apontam para ele como um sábio, e de bom coração. O que poderá ter levado a isto?

Já tinha há muito tempo classificado para mim próprio o suicídio como um acto sempre precipitado. Ou seja, a maneira como o compreendo, é como sendo sempre uma resposta a uma situação de angústia, que a pessoa exerce precipitadamente. Se a pessoa pudesse encontrar dentro de si nesse momento o seu "eu" sensato, emocionalmente equilibrado e inteligente, nunca tomaria essa decisão, uma vez que essa decisão não é em caso nenhum lógica e emocionalmente desejável. Esta é a maneira como o vejo, e acredito que também terá sido assim para Mahoney.

Outra resposta que me surgiu também rápidamente é esta: Mahoney era um construtivista, tendo sido até um dos autores de psicologia que mais contribuiu para a aplicação desta corrente teórica à psicologia. O construtivismo defende que a organização interna do "caos" da realidade, o sentido que a pessoa encontra para as coisas, é construído pelos próprios indivíduos que estão a apreender a realidade, não se podendo vislumbrar qualquer tipo de tentativa de interpretação da realidade que não seja uma construção de quem a faz.

Eu admiro imenso o construtivismo, porque realmente acho que é verdade que seja qual for a relação que temos com a realidade, ela só é significativa para nós se partir dos próprios significados que damos às coisas. Ou seja, não acredito que ninguém possa transmitir a ninguém nenhum tipo de interpretação ou sentido acerca de nada, se essa interpretação não passar pelas próprias vivências que a pessoa teve, e nas quais desenvolveu o seu próprio sentido para as coisas. Isto é parecido com o existencialismo, e não tenho a certeza, mas acho que o construtivismo surgiu muito na linha do existencialismo.

MAS: gosto do construtivismo por causa do que ele nos diz da maneira como nos relacionamos com a vida, mas não gosto nem concordo com a parte que diz que não existe um sentido para a realidade, exterior àquele que nós escolhermos. Para mim o universo tem um sentido independentemente do Homem ou de outro ser qualquer, e não depende das construções pessoais que esse homem ou ser fizer. E, em última análise, acredito que essa atribuíção da realidade como essencialmente relativa e sem um fio condutor comum e primordial, poderá ter estado relacionada com o triste fim de Mahoney. São estas as minhas duas explicações (ou "construções") sobre os seus motivos.

E agora, vou continuar a Páscoa. Até breve.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá.
Interessante teu ponto-de-vista. Eu fiquei bastante intrigado com o suicídio de Mahoney tb. Me pergunto como pode um teórico em Psicologia cometer tal ato... Fica uma sensação de contradição imensa. Até mesmo um grande arranhão em todo o legado do autor... Lembro agora daquela frase popular: "Em casa de ferreiro o espeto é de pau."

- disse...

Olá Marcelo. Pois... é caso para dizer essa frase popular! Mas ao mesmo tempo, também penso que um psicólogo em sofrimento pode na mesma ajudar outras pessoas, porque quando se trata de nós próprios é sempre mais difícil ver as coisas claramente, e a ajuda de uma visão exterior é uma das razões pelas quais consultar um psicólogo pode ser útil. E, por outro lado, é bom saber que os psicólogos passam pelos mesmos problemas que os clientes, isso dá-lhes um ponto de vista mais experiente das dificuldades dos clientes. Mas ao mesmo tempo seria de esperar que também se conseguissem ajudar a si próprios, não é? Bem, parece que a vida pode ser realmente difícil em alguns momentos, e que ninguém está isento de passar por momentos negros... e de caír nesses momentos.

Desculpa a demora, estive para fora.