8 de junho de 2008

Sou como um velho combatente, mas nunca combati. Não travei batalhas, mas vejo-as passar algures em mim. Trago marcas de guerras que não vivi.

Procuro paz, comida e algum prazer passageiro: um sorriso, uma brisa, um cheiro perfumado. Vivo o dia a fugir do passado. Sento-me na berma da estrada, com a perna amputada, que por acaso trago arrastada. Meninas pequeninas fitam-me rindo. Pisco-lhes o olho e seguem caminho, de mãos agarradas a mães preocupadas.

Vivo de esmolas. Dois sorrisos pagam a jornada. Copos baços de licores coloridos, tascos abafados de fumo e de gente. Dão para a semana toda. Gosto de ver os dias passar, sentar-me à tarde à beira do mar na companhia de rafeiros esfomeados.

Há qualquer coisa de bom em não contar com nada.
Fica-se todo naquilo que se tem, e o que se tem fica mais real.

3 comentários:

soy yo disse...

as batalhas internas são as mais dificeis...

Irina Gama disse...

pois... quem, de coração cheio de amor, não se sente assim de vez em quando muitas vezes??

gostei... como sempre!

:*****

Inês disse...

e eu que não sabia que tinhas um escritor dentro de ti...! :)*