27 de fevereiro de 2008

Psicologia e religião

O Senhor disse: "amai-vos uns aos outros como Eu vos amei". Não disse: "aconselhai-vos uns aos outros como Eu vos aconselhei", ou "trabalhai uns para os outros como Eu trabalhei".

O que nos cura, salva e liberta é o amor. A Psicologia é um instrumento poderoso para ajudar nesse caminho, e como tal deve ser utilizado por quem procura viver em amor. Mas a Psicologia por si só não implica o amor (por isso, por si só também não implica a cura, a libertação e a salvação). Logo, qualquer intervenção psicológica em que o psicólogo se limite a ajudar a pessoa a analisar a sua vida, mas não se torne também ele próprio numa das relações significativas da pessoa, apesar de poder estar a ajudar muito a pessoa, não está a actuar totalmente segundo a vontade de Deus. Está só a prestar um serviço, o que também pode ser considerado por alguns como "amar o próximo". Mas eu não o considero.

Amar implica uma relação recíproca em que eu, com aquilo que sou, sinto e quero, me envolvo (ligo) emocionalmente com alguém, e em que passo a desempenhar um papel na vida emocional do outro, assim como o outro também na minha. E é esse papel que nos salva a ambos, não a simples prestação de um serviço, ainda que seja feita numa perspectiva dita "cristã" (como é possível que haja - tantos - cristãos que confundam amor com prestação de serviços?).

Numa perspectiva cristã, amor e profissão não devem ser nem separados nem emparelhados. A profissão é mais uma de muitas áreas da vida da pessoa que são transversalmente contagiadas pelo amor que transborda da sua relação com Deus. O amor cristão na profissão não se limita a uma espécie de "consciência profissional" que leva as pessoas a darem o seu melhor profissionalmente, nem a profissão é considerada por um cristão como uma área distinta das relações pessoais, separada do amor. O amor de um cristão existe na sua vida em geral, em todas as suas relações. Amar não é nem pode ser considerado igual a prestar um serviço com muito zêlo.

P.S.: Isto merece uma nota de esclarecimento técnica: o facto de o psicólogo ter que ter cuidado com os fenómenos de transferência e contra-transferência, que podem comprometer o processo terapêutico, não quer dizer que não possa amar a pessoa e ser amado por ela, numa relação autêntica. Quer dizer apenas que deve ter consciência desses fenómenos e tê-los em conta para o bem da pessoa.

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