28 de junho de 2007

Vidas

Às vezes tenho coisas pra dizer, como hoje. Por isso resolvi nos ultimos tempos voltar a ter um blog, depois duma curta experiência no ano passado.

Hoje estive com os sem-abrigo, numa noite de oração, partilha de vidas e de mantimentos, que acontece uma vez por mês. As pessoas com quem estou lá fazem-me pensar. Há qualquer coisa de relativo em toda esta situação: a deles, a minha... em que ponto poderemos assentar no meio dessa relatividade e encontrar aquilo que nos é comum? As coisas são mais simples do que as fazemos. A experiência humana é a experiência humana, não estamos todos tão longe uns dos outros como pensamos ou como aprendemos a pensar. Todos queremos alguem com quem estar, todos temos experiências de solidão, de separação dos nossos entes queridos, de desilusão, mas também todos temos experiências de prazer, de desejos, de plenitude. Por que não podemos então estar mais perto das pessoas por quem passamos na rua, já que temos tantas coisas em comum?

Também me atrai a crueza e a nudez de máscaras que se encontra lá. Parece que se cria um intervalo no tempo e no espaço, em que simplesmente se está. Está-se para além das teias construídas pela sociedade, está-se naquele momento, sem promessas falsas ou verdadeiras, sem planos pró futuro. Só estar com as pessoas. E parece tão verdadeiro viver assim! Quero estender essa sensação pró resto da minha vida.

Aqui no computador a pensar nessas coisas e a ouvir músicas que tenho praqui, encontrei uma da Françoise Hardy, a cantora que os meus pais ouviam quando eu era pequeno, e que nos acompanhava nas viagens, mais longas do que hoje em dia, nas férias de Verão. Que saudades de olhar pela janela a ver a paisagem passar, num carro a cheirar a estofos limpinhos, entregue à segurança duns seres mais velhos e mais sábios que tudo sabiam, num mundo cheio de promessas de aventuras interessantes e felizes. Agora já não parecem saber tudo, nem eles nem ninguém. Que saudades dos cantores que gravavam um rock harmonioso e limpinho em estúdios tonos, com óculos grossos e quadrados.

11 comentários:

n disse...

Para mim a palavra que ficou no pensamento foi "circunstancial", que é diferente de "relativo".
Gostei muito. De ficar com uma melhor noção das circunstâncias.
Abraço

tmg disse...

Sal :) como é que o teu novo blog que só tem um dia de vida já tem tantas visitas?? afinal sabes por "contadores" sem publicidade... eheh
Bem vindo de regresso à blogosfera!

- disse...

lol! tmg, foste tu q me ensinaste :p obrigado!

n, és capaz de ter razão! abraço e obrigado

simulactriz disse...

será que esse intervalo de espaço e de tempo em que "simplesmente se está" tem a sua sequência cronológica? ou não passa de um pequeno flash sacudido pelo tempo no estar atento?

Anónimo disse...

memoria amarga e doce de um colo de que se tem saudade. Sem-abrigo... e que abrigo temos nós? Gostei.

- disse...

simulactriz: parece-me q deve ter uma sequencia cronológica, na medida em q vem no seguimento duma evolução. se calhar o q sinto como flash será um dia o próprio carácter do meu espaço/tempo :) espero q sim!

croquete: agridoce, não tinha reparado q o post tava com esse tom! mas é engraçado, acho q gosto desse tipo de tom. uma vez descobri q gosto de arte alegre em formas tristes e vice-versa, como por exemplo na musica :)

obrigado aos dois

Inês disse...

"Por que não podemos então estar mais perto das pessoas por quem passamos na rua (...)"

"Só estar com as pessoas. E parece tão verdadeiro viver assim!"


eu acho que é mesmo verdadeiro viver assim... partilhando...*

- disse...

Inês, que honra uma bloguista da tua categoria passar por aqui! Obrigado, e concordo contigo :)

Inês disse...

ai.... ainda estava aqui a pensar se dizia aqui alguma coisa ou não, mas tenho que dizer... agradeço o elogio, mas não é de todo verdade!!!!! meeeeeeeeeeesmo!!!

patinho feio disse...

gostei muito do último parágrafo, do meu tipo de delícias! boa ideia: um blog teu!:) vou passando por aqui!

- disse...

Q bom cate! obrigado e beijinhos