Mas o que raio é que o mundo de hoje tem contra as emoções? Ou melhor, o que raio é que o mundo "sábio" de hoje tem contra as emoções? Parece que hoje em dia só há dois tipos de pessoas: aquelas que vivem emoções desenfreadas e satisfazem todos os desejos por mais passageiros que sejam, e aquelas que vivem pelo racional, controlando e desconfiando das emoções.
Os "sábios" de hoje em dia enquadram-se neste último grupo. Estou farto de ouvir pessoas supostamente esclarecidas a dizer que as emoções são de desconfiar e que não oferecem um meio seguro para decidir a direcção das nossas acções. Eu sei que hoje em dia estamos num extremo em que o mundo inteiro parece ter resolvido dizer que não a qualquer tipo de auto-controlo, e não acho que isso seja positivo. Mas não deitem tudo no mesmo saco!
Em toda a história da Humanidade, quando se identifica um problema, aparece uma posição no pólo oposto, sem que isso esteja necessariamente correcto. Acho que é isso que se passa actualmente com a reacção dos "sábios" à vivência desenfreada das emoções.
Mas quero propôr uma distinção diferente: eu acredito que o mal não está em viver as nossas emoções a fundo. As emoções fazem parte de nós, e acredito mesmo que correspondem a um "eu" profundo que não deve ser reprimido, mas, muito pelo contrário, as emoções devem ser cultivadas como um meio privilegiado de relação com o mundo, que nos oferecem não só uma sensação de realização, mas também uma riqueza enorme de pistas sobre a direcção a seguir.
A mim parece-me que um homem completo não é aquele que controla as suas emoções em função de critérios exteriores, considerando-as contraditórias, mas sim aquele que encontra um caminho em que todas as suas emoções apontam na mesma direcção, sem contradições. Isto leva-nos ao novo nível de análise que eu proponho. Em vez de se considerar que existe uma polaridade oposta entre razão/emoção, parece-me muito mais acertado considerar a razão e as emoções como elementos complementares, ambos valiosos, da mesma unidade. A questão está, antes, noutro tipo de distinção: entre superficialidade/profundidade.
Quando há pessoas que satisfazem todos os desejos sem nenhum critério, ou pessoas que um dia seguem um caminho e noutro dia seguem outro caminho oposto, também sem nenhum critério, isso não se deve ao facto de estarem a seguir emoções supostamente enganadoras ou voláteis, mas de viverem a um nível superficial e não profundo. Cada um de nós é um ser, e cada ser tem vários níveis, uns mais superficiais e outros mais profundos. A razão e a emoção estão presentes em todos esses níveis, sendo que tanto a emoção como a razão, quando se vive a um nível mais superficial, são ambas voláteis e pouco representativas do nosso verdadeiro "eu".
Assim, a questão está em sabermos viver a um nível mais profundo do nosso "eu", integrando tudo aquilo que nós somos em todos os níveis. Se assim for, viveremos emoções fortíssimas e imediatas que são também correctíssimas e cheias de validade para funcionarem como um critério de decisão sábio.
Mas parem-me de dizer mal das emoções, sff! :p
4 de julho de 2007
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8 comentários:
As emoções são feias. As emoções são parolas. As emoções são incompetentes. As emoções cheiram mal da boca. As emoções são intriguistas e falsas. Se eu vir uma emoção a vir na minha direcção, atravesso a rua.
Eheheh. Quero ver o que me acontece agora. Será que vou ser processado por calúnia?
Só pode contrapor razão com emoção quem os vê como duas realidades antagónicas. Por isso acho engraçado que acabes por defender um lado (fosse qual fosse o lado) e forneças o entendimento teórico que permite o ataque de que dizes esse lado ser alvo.
O teu texto está assente num paradigma desactualizado (o de Descartes) que pressupõe que razão e emoção são duas coisas diferentes, ou melhor, que podem funcionar isoladamente.
Podemos formular raciocínios, mas isso não significa que não tenhamos emoções presentes a influenciar esse raciocínio (está provado que estão sempre presentes), da mesma maneira que quando exprimimos o que sentimos não significa que não existam razões muito fortes para o fazer nem que essas emoções não são a consequência de raciocínios (os raciocínios também estão sempre presentes) que por sua vez já estavam impregnados e influenciados por emoções e por aí adiante.
Segundo o que percebi no “Erro de Descartes” (corrija-me quem saiba melhor) temos tecido nervoso e com memória em todo o corpo, não só no cérebro. Todos os sensores do corpo contribuem para a construção de imagens/ representações das quais umas têm consequências directas (reflexos) e outras são lidas pela nossa memória e formam um pensamento consciente, que por sua vez desencadeia reacções em todo o corpo. Estou de certeza a simplificar imenso.
Razão e emoção são uma só coisa, como duas faces da mesma moeda e essa moeda é a forma como cada pessoa responde ao ambiente onde está. Essa resposta é só uma coisa.
Sobre uma mesma resposta de alguém, cada pessoa do mundo poderá dizer uma coisa diferente. Muitas poderão dizer que é emotiva e outras poderão dizer que é racional. Eu acharei que é uma resposta de alguém que sentiu e pensou alguma coisa. Se algo me levar a pronunciar-me tentarei identificar e analisar primeiro as circunstâncias e direi que é uma resposta às circunstâncias que consegui perceber e que tentarei descrever.
n, não reparaste nesta parte do que eu escrevi? "Em vez de se considerar que existe uma polaridade oposta entre razão/emoção, parece-me muito mais acertado considerar a razão e as emoções como elementos complementares, ambos valiosos, da mesma unidade."
Não chegaria a dizer que são duas faces da mesma moeda, porque acho que são dois mecanismos diferentes, se bem que entrelaçados. Mas concordo que estão sempre os dois presentes, e tu, ao incluíres nesta análise a dimensão corporal das sensações físicas, ainda mais razão me dás quando digo que é um erro não vivermos ao nível das nossas emoções, e também (completo com a tua contribuição), ao nível das nossas reacções físicas mais primitivas também.
Eu não estava a separar nada, muito pelo contrário, estava a protestar contra quem separa quando considera errado libertar e seguir as emoções.
Abraço
Eu li mas, precisamente, a complementaridade supõe que existem duas coisas diferentes que estão unidas e formam o conjunto completo. Eu não acho que sejam duas coisas diferentes, acho que é uma só coisa que pode ser analisada, lida, compartimentada e nomeada de diversas maneiras.
Abraço também para ti :P
resposta rápida ao título: emoção!!!!
porque sem coração não seremos nunca grande coisa...
e a dicotomia
"superficialidade/profundidade" pode aplicar-se à razão e à emoção, claro, mas acho que é na emoção que a profundidade encontra terreno mais fértil...*
Amen sister! concordo ctg, mais uma vez... para mim a existência, a reacção à experiência, é acima de tudo emoção. Acho que a razão aparece num momento posterior em que é preciso organizar a experiência, mas para mim não ocupa o mm lugar da emoção ;)
P.S.: já n vou ao teu blog há uns tempos, com mta pena minha, pq o meu computador tá mt lento, e cada vez q abria o teu blog, bloqueava... não aguenta tanta emoção eheh
ihhh, que emocionado! :) Acho que esse 'sabio' se estaria a referir precisamente à vida superficial, à flor da pele, que vivemos por estas ruas e dias. Sem responsabilidade pelo outro, tudo gira à volta do meu umbigo e apeteces. A emoção 'superficial' (que é para distinguir da tua emoção profunda), é tendencialmente egocentrica... o que EU sinto, ME apetece, etc.
De referir que percebo ao que te referes com emoção, mas a definição de emoção que tenho é mais superficial... ex-fora; motio - moção, acção "impulso neurológico que move um organismo para a ação" (por oposição a sentimento.)
Também concordo com o n: nada esta compartimentalizado em nos. Sendo um impulso neuronal, os circuitos activados nunca estao sozinhos na sua excitação. Podemos até sentir uma emoção como consequencia de um pensamento. Mas reconheço dilemas interiores diários entre o que acho que devo fazer (simbolicamente atribuido à razao...) e aquilo que me apetece fazer (tradicionalmente a emoção). Realmente, às vezes mais parecem trilemas e tetralemas, outras vezes são uma mesma coisa e aí é mais fácil... de facto, poderia definir outra coisa: aquilo que decido efectivamente fazer no fim (vontade). Acho que esta visão, embora algo artificial, ajuda-nos a falar do mesmo.
De facto, uma decisão certa é normalmente encontrada no fundo de nós mesmos - e ai excluo a superficialidade - e devemos ouvir-nos a serio, com razao(oes) e emoção(oes), ou seja, sem descurar nada, nem reprimir nada... saber escutar...as razoes das nossas emoções e as emoçoes das nossas razoes, e mais ainda, as emoçoes e razoes dos outros, saindo de nos, crescendo para dentro... para então agir -motio- decidindo então, já com outra perspectiva.
Ah, mas essa decisão pode ser de entregar/relativizar as emoçoes que sentimos... Numa palavra, para amar não podemos dar só o que nos apetece, mas dar tudo, e aí pode haver dor.
talvez nessa entrega venha um sentimento de paz, mais profundo e perene, mas nem esse é garantido.
Ou seja, vivam as emoçoes! Mas são relativas.
lol :) q tu e o n concordam isso eu já sabia eheh mas a mim não me enganam! HAH! ;)
Não concordo que a emoção superficial seja tendencialmente egocêntrica, nem que a entrega de amor não traga sempre um sentimento de paz. Mas concordo que muitas vezes traz dor, sim. E gostei do novo conceito: aquilo que no fim decido.
Beijinhos :)
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